CARTA ABERTA A ZULEIKA DOS REIS

Na manhã de 05 de novembro de 2012

Sua tola, sua romântica de sempre, sua sempre tardia romântica, Zuleika, zu, zuzu, zuka, ana (personagem-fantasia em teus contos), zzzzzzzzzzzzzz ( a abelhinha que um dia se sonhou)... você consegue imaginar, MESMO, sem ilusões, sem sonhos, sem liberdade de movimentos, o que seria a sua solidão sem a presença do seu único tesouro humano aí presente, e sem a presença (do seu e do dela, tesouro), do anjo da guarda encarnado que, você já sabe, não ficará por muito, muito tempo? Você já pensou, mesmo, mulher tola? Aqui ou noutro lugar seria só, no real dos dias, a COMPLETA, ABSOLUTA, IRREMEDIÁVEL SOLIDÃO que, em verdade, só lhe resta mesmo esse tesouro, o seu único, além da bênção da presença (cada vez menos frequente, pelas premências do real dela) do anjo da guarda encarnado e da presença solidária dos amigos, quase todos presenças reais, embora quase nenhum no imediato real.

Pensa, mulher: todos os homens amados a esqueceram, no real dos fatos, em especial o Maior Deles a esqueceu, e a você não resta direito nenhum de pôr quem quer que seja no lugar de nenhum deles, muito menos no lugar do Maior Deles, desse que também não a ama mais... Seu trabalho e seus estudos, sua escrita... que fazer para restaurá-los e para o quê, a partir daqui? Seu canto? Ora... ora... Sem aprofundar mais nada, que é preciso calar as reflexões neste ponto, que É PRECISO MESMO CALAR TUDO O MAIS, cuide do tesouro humano que lhe ficou, peça ao Deus que prolongue, ainda, pelo tempo necessário (até você aprumar um pouco seu corpo e seus joelhos), a presença, aqui, do seu e do dela anjo encarnado e pára , de vez, de sonhar com breves hiatos de plena solidão aqui, e/ou em outro qualquer lugar, o único sonho que você ainda se permitia acalentar.

O tempo de quaisquer sonhos e idealizações passou. Agora é o tempo do real, com o qual nunca, jamais você soube, de verdade, lidar. Aprenda, mulher que também nunca cresceu. Resigne-se, de uma vez por todas ao fato de que o único homem que deveras a amou, mesmo que -isso é possível? - em algum lugar de si próprio ainda guarde algo do que sentiu, jamais lhe dirá do que você foi, do que, talvez, você ainda lhe seja. Jamais disse e jamais dirá. Você precisa continuar sobrevivendo a este SILÊNCIO DELE, como sempre tem sobrevivido... Lembre-se do final do filme E O VENTO LEVOU, quando a incansável Scarlet diz, depois de tudo perdido e partido, irremediavelmente: AMANHÃ É UM NOVO DIA. No fundo ela sabe que não haverá outro dia senão o da SOLIDÃO, A MAIS ACERBA; ela sabe, no mais fundo de si própria mas, recusa-se a admitir tal fato. Não faça o mesmo, minha cara amiga.

Aprenda, filha: só um tesouro humano lhe restou, no efetivo dos dias, e por enquanto também a presença do seu e dela anjo encarnado. Claro, há a solidariedade dos amigos, virtuais e não virtuais, (quase todos reais) mas, os amigos, todos e cada um, não podem tomar, em seu lugar, mulher, a decisão que só a você cabe tomar: CUIDAR DO SEU REAL, AQUI. CUIDAR DO QUE EXISTE, NO IMEDIATO DOS SEUS DIAS. SEM SONHOS, ATÉ QUE O GRANDE PAI LHE PERMITA (SE LHE FOR DE DIREITO) NAS MÃOS, A SEMENTE DE ALGUM NOVO SONHO EM FOLHA, MAS ISSO...

Há refrigérios verdadeiros, os seus amigos, que a amam, nunca se esqueça. Receba com gratidão o que eles lhe possam e queiram dar, mas poupe-os, o mais que possa e consiga, de sua amargura, que eles não a merecem, a esta sua amargura; dê a eles o melhor de você, sempre, o melhor que lhes consiga dar. Haveria muitas mais coisas a lhe dizer nesta carta aberta, filha, mas, urge que eu pare por aqui.

Afetuosas saudações da Zuleika.

P.S. Acabo de receber uma carta por mim escrita e a mim endereçada, uma carta de muito rigor, até um pouco impiedosa demais. Lembra-te, Zuleika, de que sempre há atenuantes, para qualquer situação e/ou crime ainda que com dolo; não te sejas juíza tão implacável, leva em conta a posição das testemunhas e do advogado de defesa; abranda, ainda que apenas interiormente, a sentença da tua pena.

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