- Epílogo ::>
Já parou para pensar no quanto de energia gastamos querendo que o tempo passe?
“Não vejo a hora desse ano acabar.”
Estamos sempre querendo que os anos acabem... os dias, as semanas, as horas. Talvez, porque não conseguimos quantificar a importância que tudo isso têm. Até mesmo uma mísera hora. O que é mesmo uma hora? Sessenta minutos... Que mal há em perder uma hora da nossa vida? A resposta para essa pergunta sempre chega, mais cedo ou mais tarde. Aí sim, quando tivermos consciência do que perdemos, saberemos, enfim, por qual razão era tão importante.
Mas nós vivemos de nostalgia. Estamos mais no passado do que no presente... E as horas se tornam apenas meras extensões da existência... Muito breve, talvez. Eu olho para o céu demasiadamente, ontem a lua estava amarela, como um grande sol noturno. E... Olhando assim para o céu, me vem a terrível sensação que é pensar num paraíso. Será que existe mesmo um lugar imaculado e sem gravidade, onde flutuaremos no meio de espectros coloridos e lagos espelhados, num silêncio absoluto?
O tempo passa, realmente passa. E passa tão rápido que se assemelha a um suspiro. E suspiro me lembra morte, o último, o derradeiro. Já parou para pensar que estamos - constantemente e ininterruptamente - caminhando para o fim? O fim é breve e louco. O fim é inevitável meramente patético, como se afogar em sua própria respiração. É paradoxal pensar em um universo paralelo, uma segunda dimensão, sendo que não passamos de alguns milhões de células que sempre estão em divisão. Somos material orgânico ambulante. Somos conceitos médicos e órgãos e tecidos que nascem e morrem, num bip.
É absurdamente assustador pensar que depois da vida não resta nada, iremos estourar como uma bolha de sabão e desaparecer no espaço, e no tempo. Sofremos... Por que carregamos uma vaga ideia de infinito, um conceito distante de eternidade.
Eu quero viver o meu agora, mesmo que seja estranhamente complicado. Eu quero ser aquelas frases difíceis que eu amo inventar. E ser o fugaz vislumbre do pôr-do-sol, que eu vejo todas as tardes, por um vidro embaçado. E quero ser as poesias e os textos que pretendo imortalizar, mas que no fundo não passam de insólitos esboços do que já fui. E ser minha contraditória inspiração, ser as horas vazias que preencho com idéias. Quero ser tudo o que posso e escrever sonetos quase certos, erradamente metrificados, para alguém que não existe mais. E queria ser tanta coisa que não posso condensá-las em uma só vida.
Não quero que ninguém me entenda completamente, por que entender assim é algo que vai além da compreensão humana. Então, talvez, exista mesmo um paraíso e seres superiores a nós. E, talvez, morrer não doa nada e seja apenas um rito de passagem ou um simples desconectar de fios. Talvez, eu ame apenas uma vez e não haja tempo para reparar meus erros. Só quero ter a certeza de que quando meu coração parar, que ele pare por estar repleto e não vazio. E que o silêncio absoluto em que estarei a algum tempo,, resguarde a beleza que é ser... Apenas ser. Nada mais.
Esse é o detalhe. É o que realmente importa.
Não falta muito.
Amor, Ana.