Estávamos em férias ... continuação 36a. carta "enfim, a retirada da traqueostomia"
Enquanto o meu filho evoluía diariamente, com pequenos e importantes progressos, a regra ditada pelos médicos da UTI, quando recolocaram a traqueostomia, que o nosso filho usaria permanentemente era mantida. Imaginem nossa frustração . A gente queria vê-lo livre desses caninhos.
Aos poucos foi ficando claro que não havia uma ação interdisciplinar entre a equipe. As decisões eram tomadas unilateralmente, de acordo com a visão de cada profissional.
Haveria um abismo entre as fases? Na primeira, aguda, eles faziam tudo para salvar a vida. Agora na fase crônica parece que os objetivos são direcionados somente para manter a vida.
Aos meus olhos precisávamos caminhar para outra fase, a de reabilitação, que devia focar o retorno a vida cotidiana, com melhoria da qualidade de vida. Iniciar simplesmente preparando o paciente para tirar os tubinhos que foram colocados na primeira fase, quando necessários para salvar a vida.
A caminhada para essa terceira fase seguia silenciosamente com os trabalhos da fisioterapia neurológica. Silenciosa e árdua. Algo como uma caminhada em uma noite escura. Tateando, um passo após o outro.
Tudo indicava que nosso filho ficaria bem sem a traqueostomia. Ele respirava tranqüilo em ar ambiente e a tráqueo estava fechada há semanas. No entanto a retirada não era autorizada. A gente se lembrava da experiência em SP quando a equipe se mobilizou para a retirada da traqueo. E foi um sucesso. A gente queria a mesma coisa aqui.
A retirada da traqueostomia aconteceu, por muita insistência do meu marido. Confesso que eu ficava insegura para forçar a barra. Ele não!
Estava convicto e pronto para assumir o risco de autorizar a retirada.
O procedimento foi tão simples que parecia inacreditável. Uma enfermeira retirou em minutos. Com a retirada nosso filho ficou melhor que os dias anteriores. Certamente aliviado. Talvez com a sensação de estar melhor.
E nós ficamos também melhores.