Estávamos em férias ... continuação 34a. carta "Dia Triste! A compra do Enxoval"

DIA TRISTE! A COMPRA DO ENXOVAL

Olhei ao meu redor e vi pessoas escolhendo as mesmas coisas que eu, lençóis, fronhas, travesseiros, toalhas. Sorriso nos lábios delas. Nó na garganta e insistentes lágrimas nos meus olhos.

Parecia incompreensível essa emoção. Entrar em uma loja para comprar pequenos mimos sempre foi uma alegria.

A compra de enxovais estava fortemente ligada a momentos felizes da minha vida: nascimento de bebes, novos casamentos, aniversários, um presente para o próprio quarto, ou quando estava preparando a casa para receber visitas.

Andando pela loja, uma moça se ofereceu para ajudar. Dispensei gentilmente. Não queria companhia. Aquele era um momento só meu. Na verdade eu não sabia nem o que queria nem a quantidade necessária.

O meu filho ia sair do hospital e precisava fazer um novo enxoval. Queria deixar o quarto bem bonito e o mais diferente possível de ambiente hospitalar.

Escolhi alguns jogos estampados, listrados, coloridos e alegres e toalhas de rosto e banho brancas.

Levei as peças para a vendedora lançar no sistema e lágrimas insistentes desciam silenciosamente no meu rosto. Eu permaneci em silêncio. Ela olhou para mim, certamente ficou sem entender. E eu fiquei grata pelo seu silêncio.

Cheguei em casa, lavei as peças, passei e deixei o quarto arrumado. No dia seguinte meu filho chegou!

Dias se passaram e eu me dava conta que precisava de mais enxoval. E na prática os lençóis escolhidos, mesmo com elástico não ficavam bem esticados. Para facilitar a higienização e o passar a ferro teriam que ser brancos mesmo e sem elástico. Para evitar as escaras os lençóis tinham que ficar bem esticados e secos.

Comprei lençóis brancos avulsos em um atacado e com ajuda de minha mãe costuramos cerca de 40 cm de fitas nos quatro cantos dos lençóis para serem amarrados embaixo do colchão. Deu certo. Os lençóis ficavam esticados e não saiam do lugar quando o meu filho era movimentado na cama.

Outra peça seria necessária para realizar a mudança de posição da pessoa acamada: um lençol menor chamado de “travessa”. Primeiro cortei os lençóis ao meio e minha mãe fazia as barras. Depois, compramos tecido de algodão cru para fazer as travessas de tamanho adequado. Depois também passamos a fazer os lençóis de algodão cru em tamanho maior do que lençol convencional para fazer as amarrações embaixo do colchão.

Entre o lençol e a travessa usamos um plástico protetor, de forma que as travessas eram substituídas a cada troca de fraldas e o lençol ficava preservado. Um lençol = duas travessas, estas são mais fáceis de lavar e passar. Esse tipo de plástico tem uma camada fina de tecido e assim minimiza o calor. A rotina precisava ser otimizada para que nossa energia pudesse ser canalizada para outros cuidados.

As camisetas foram cortadas nas costas no sentido do comprimento e assim dava para vesti-lo de frente e as costas ficar sem panos para não machucar a pele. Depois a minha mãe costurou shorts que ficaram ótimos, presos somente na cintura por velcros. Ficava por cima das fraldas.

As lágrimas se espaçaram. O novo enxoval ficou velho e peças novas foram substituídas. O impacto inicial tinha sido superado.

Rosa Destefani
Enviado por Rosa Destefani em 30/10/2012
Reeditado em 31/10/2012
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