A QUE SABE PALAVRAS

Na manhã de 24 de outubro de 2012

Para os que me amam e me julgam sábia – pobre de mim!

Uma vez um estudioso do esoterismo me disse que, em vidas passadas, eu havia sido cigana, por isso compreendo almas, compreendo destinos diversos, compreendo as mais loucas contradições, compreendo até as razões dos meus desafetos e todos me costumam procurar para que eu lhes diga a palavra que encontro e eu, sem modéstia, acabo encontrando, para cada um, a palavra e/ou o gesto certo, de acordo com a necessidade de cada um. Sou muito amada, sei que o sou, mas, via- de- regra, quase sempre as pessoas não encontram as palavras que eu precisaria ouvir, as palavras certas para mim, e se quedam diante de mim com seu amor atônito, assustado, sem palavras, ou me vêm com seu otimismo irretocável – com raríssimas exceções – na tentativa meio desesperada de tentar confortar-me. E eu jamais, jamais tenho as palavras certas e a ação certa para mim, para meu uso. Até psicoterapeutas já se perturbaram – é vero. Um deles me deu certa vez um livro seu de contos para ler e sobre o qual queria minha opinião e me dedicou o livro digitado, com as seguintes palavras: “Com meu carinho e apreço, ofereço à sacerdotisa de Hermes”. Essa dedicatória me veio de um terapeuta e de um terapeuta renomado; em tempo: precisei interromper o tratamento para cuidar (isso também ocorreu outras vezes) de outra pessoa que, embora eu não tenha síndrome de Deus, isto é, não tenha síndrome de onipotência, só e somente eu a poderia acudir e a hora era grave. O que se faz em horas como estas? Abandona-se o outro? Deixa-se que o outro se...

Às vezes, muitas vezes, eu só quis que me pegassem no colo, metafórico e/ou de preferência, de carne, osso e músculos, mas nem um nem outro a vida permite, jamais, ainda que eu o consinta, ainda que eu o peça, eu que só tenho pegado gente no colo, de múltiplos modos. Eu sou a “forte”, e não há nada que eu possa dizer ou fazer que mude o que as pessoas pensam de mim. Eu tenho o dom da palavra, de dar nome às coisas, a quase tudo. Mais do que uma bênção, esse grande dom de palavra têm sido a minha maldição e os signos da minha SOLIDÃO. Como a Poesia. Infelizmente, não há como abdicar desse dom. COMO DEVIAM SER SOLITÁRIAS CERTAS PITONISAS! NÃO ALCANÇO, MAS INTUO O TAMANHO DE SUA SOLIDÃO.

P.S. Desculpem, amigos, isto é apenas um desabafo, SEMPRE melhora a “crise”, sempre tem que melhorar. Não há nada que eu possa e deva fazer pela vida de minha mãe e pela minha que não me caiba a mim, exclusivamente, por enquanto com a presença e o auxílio inestimável do nosso anjo encarnado.

É só o desabafo de alguém muito sem forças, mas, que sempre tem sobrevivido a si mesma, sempre. Afinal, destino é destino, não encontro outro nome para isso. Creio em um Deus que ainda possa vir a aplacá-lo, a esse destino. Quem sabe eu ainda seja merecedora disso.

Na manhã de 24 de outubro de 2012.