Estávamos em férias ... continuação 33a. carta - Fisioterapia Neurológica

A fisioterapia neurológica teve inicio com os procedimentos de avaliação e com tarefas a realizar.

A primeira foi passar gelo nas pernas, de baixo para cima, vinte vezes cada músculo, com intervalo de, no máximo, duas horas. Havia jeito certo de passar o gelo, ritmado.

Depois a atividade incluiu o braço esquerdo, também de baixo para cima e com mesmo ritmo e intervalo.

O braço direito foi incluído com sentido inverso. De cima para baixo.

A minha cabeça confundia sentido de cada membro, e o ritmo. A atividade precisava ser planejada. Então, filmei a rotina. Fabricava gelo em copinhos descartáveis. Deixava as toalhinhas preparadas para segurar o gelo. Plásticos para não molhar a cama.

Com o rodízio de técnicos tinha semana que a atividade não era desenvolvida. Era muita coisa que a gente tinha para repassar para cada técnico. E ainda tinha o perfil de cada um, como expliquei em cartas anteriores. Uns não queriam fazer muita coisa, quanto mais segurar gelo com toalhinhas e passar no paciente.

Além do gelo, podíamos usar outras coisas, como buchas, panos, escova - um pouco mais macia do que essas de lavar roupas, para fazer pressão nos membros sem movimento. O ritmo e o sentido deveriam ser continuados.

Uma manobra que o pai fazia e eu morria de dó foi aprovada e elogiada pela fisioterapeuta. O meu marido puxava os pelinhos da perna e do braço para ver a reação do filho. E foram muitos puxões sem nenhuma reação. Mas, o pai não desistiu, apesar da falta de respostas, das minhas broncas e das críticas de quem via.

Com o aval e orientação da fisioterapeuta esses estímulos foram executados. A cobrança da fisioterapeuta era muito importante. Fazia com que nós cumpríssemos a tarefa. Depois fomos aprendendo e melhorando a sistemática. Passei a pedir para os técnicos anotarem em uma agenda os horários e a freqüência da atividade.

No primeiro momento a gente não compreendia a razão, nem a importância dessas atividades. Depois a fisioterapeuta começou a solicitar para que o Róger mexesse uma perna, os dedos e assim sucessivamente. E o gelo nos intervalos que ela não estava aqui era para o cérebro registrar a existência dos membros.

Passaram-se semanas ... semanas ... e semanas. Quem chegasse e assistisse a fisioterapia não ia entender nada. Os comandos deviam ser bem altos, firmes, que só o pai dava conta. Quem sabe muitos até nos chamaram de doidos!

A gente confiou na profissional e fazíamos tudo da melhor maneira possível. Ou pelo menos tentamos. E ela sabia que estávamos fazendo, pois o resultado desejado aparecia ou não. E ela cobrava. E a gente reprogramava e cumpria as tarefas.

Ainda não tinha movimento. Só vibrações, pequenas vibrações nos músculos que estavam sendo trabalhados. Cada pequeno progresso era filmado.

Imaginem a nossa alegria!!

Vimos um pequeno movimento nos dedos do pé direito!

E os movimentos alternavam, um dedinho, outro dedinho, e depois o dedão também apresentou mexidas leves. Às vezes eram só tremidas.

Meses depois ele conseguia mexer os dedos do pé. Semanas depois conseguia balançar o pé para um lado e para outro.

A dedicação da fisioterapeuta era enorme.

O esforço dele era enorme.

A nossa alegria era enorme.

O tempo era enorme.

Deus é enorme!

Rosa Destefani
Enviado por Rosa Destefani em 23/10/2012
Reeditado em 31/10/2012
Código do texto: T3948687
Classificação de conteúdo: seguro