Até o fim

Não era como a realidade, no fundo eu sabia que era apenas um sonho e eu não sabia quando ia acabar para se transformar apenas numa memória distante, isso se eu lembrasse quando acordasse.

Só que ele estava lá, no meio de todo o caos que minha vida estava naquele momento, ele veio como um presente durante um meu sono para lembrar que eu morria de saudade, mas também para me dar o abraço que eu não recebi por mais de três anos... E eu poderia estar falando de um cara qualquer, um amigo, um colega, um namorado, um professor, qualquer um... Mas eu estou falando do meu vô, falecido há pouco mais de três anos, que nunca foi um cara qualquer e cuja importância nessa minha curta vida é maior do que eu possa descrever com as mais variadas palavras ou rebuscadas linguagens.

Você foi embora e eu não consegui me despedir, apesar das muitas vezes que tentei dizer "adeus" em meio a olhos secos e uma voz embargada pelo que eu realmente sentia ao ver seu corpo inanimado na minha frente, tão sereno como se estivesse dormindo, mas com os olhos fechados pela última vez, livre de um sofrimento que causava tanta aflição. Nada parecia real naquele momento, as lágrimas vieram depois e por mais que eu pense no assunto, não posso afirma com certeza que a ficha caiu... quantas vezes conversei sobre isso comigo mesma? Quantas vezes tentei colocar na minha cabeça que você não vai voltar? Mas quantas vezes me desesperei pelo desejo de chegar em casa e te ver abrir aquele sorriso, sentado na sua cadeira de balando, braços abertos prontos a me abraçar?

Ah, vô, não foi a primeira vez que sonhei com você desde que se foi, mas com certeza foi o melhor de todos... Os outros eram estranhos e eu não tinha consciência de que estava sonhando, minha mente era corroída pelo desespero de tentar te fazer ficar, sem me dar conta de que o que eu estava tentando evitar já havia acontecido.

O último sonho foi diferente, como um presente eu me livrei da ignorância e sabia que você não estava lá, não tinha a consistência da realidade, mas com toda minha mente e meu coração eu te abracei o mais forte que pude ansiando que demorasse ao máximo o momento de ter que acordar, e eu gritava que te amava e que sentia tua falta, mas ao invés da tristeza, eu sentia alegria por poder estar contigo mais uma vez, mesmo que fora do tempo e do espaço.

Eu realmente sinto sua falta, eu te amo demais... Talvez eu ainda não esteja pronta pra dizer "adeus", mas acho que a ficha está caindo de verdade dessa vez. Pode parecer bobagem, mas agradeço a Deus pelas fotografias que continuarão comigo mesmo que um dia eu esqueça tua imagem. A tristeza continua e as lágrimas virão sempre, eu costumava ter medo de sonhar com você assim, agora eu só queria mais um daqueles abraços de cortar a respiração, fechar os olhos e fazer cócegas, tudo ao mesmo tempo, a tua barba por fazer fazendo cócegas nas minhas bochechas, seu cabelo quase todo branco e liso por onde eu passava meus dedos, as suas rugas, marcas de expressão e todos os outros sinais que eu nunca vi como sinal de velhice, era apenas lindo, era a imagem que eu tinha daquele homem que eu amava e que podia ter 200 anos, mas seria sempre jovem pra mim...

Cada ano que passa eu conto qual seria tua idade em mais um aniversário, eu não par.o de contar mesmo, talvez eu nunca fique pronta porque eu não tenho que dizer "adeus", talvez eu tenha apenas que conviver com a saudade, esperando pelo dia em que vou te ver de novo. Imaginando se um dia terei um filho para colocar teu nome nele, quanto tempo falta, qual dia está mais perto e o que eu tenho que fazer e pensar para o tempo ficar mais rápido,, cheia pela certeza do que eu sinto e ao mesmo tempo a ansiedade, a dúvida de para onde estou me dirigindo.

Então, por último, eu talvez precise apenas dizer mais como uma constatação para eu mesma: "Eu te amo até o fim!" Um segundo de diferença para um novo começo, espero por esse dia.

Da sua neta, que você criou e amou como filha, Maggie Paiva.