Estávamos em férias ... continuação 31a. carta "Os cuidados de um técnico de enfermagem"
O plantão era de 24 horas e a necessidade era que o técnico fosse habilitado em respiração mecânica. A condição do Róger permitia respirar em ar ambiente, sem aparelhos, mesmo com a traqueostomia, novamente. Caso fosse necessário algum procedimento o técnico deveria saber resolver.
As noites eram tranqüilas, sem intercorrência. O sono dele era interrompido para aplicar medicação e a cada duas horas para troca de fraldas e de posição. Nessa fase tivemos duas técnicas D. Neuza e D. Vilma que se tornaram anjinhas da guarda. Em dias alternados, a paz se fazia presente. Os cuidados com o Róger estavam sendo realizados com amor. Pudemos contar com as duas durante meses.
E, com a graça de Deus, chegou o Adirceu. Um técnico de enfermagem que ficou meses cuidando do Róger. Em várias semanas ele fez 24 horas. Em outras semanas fazia diariamente o plantão de 12 horas. Uma pessoa que muito nos orientou, com dicas de cuidados. O coração dele era enorme. E fazia tudo com amor. Relatou-nos que cuidou da mãe e isso fez ele se ingressar na área.
Meio sem saber, e sem que nos déssemos conta, as atividades de reabilitação estavam começando.
Primeiro, ele nos ensinou que devíamos avisar o Róger de tudo que íamos fazer para ele. Mesmo que a gente fizesse por ele, devíamos solicitar dele a ação:
“Róger, levanta a cabeça para colocar o travesseiro, por favor”. A gente levantava a cabeça dele, colocava o travesseiro e agradecia a ele, como se ele tivesse levantado a cabeça.
“Róger, vamos virar para o outro lado da cama”...
“Róger, levanta o braço direito para passar desodorante. Agora o esquerdo”
“Agora vamos colocar água na sonda, para você se hidratar.”...
“Um que delícia. Você vai se alimentar... o sabor é baunilha... o sabor é chocolate.... esse é de banana...”
Vamos sentar na cama e depois tomar banho...
E assim fomos aprendendo. Observando os olhos piscarem. Sim ou não. Outras vezes, nem piscava.
Mas, a gente não desistia. Nem o Adirceu. Continuamos a explicar para ele a sua própria rotina, sem a preocupação se ele estava entendendo ou se estava escutando.
Eu estava contente! O meu filho não estava mais sendo tratado como um “pacote” em cima do balcão.
Depois, esse técnico nos deu o telefone de uma fisioterapeuta, Dra. Sandra Lima, que trabalhava com reabilitação neurológica, nos relatando que ela era muito boa e que ajudaria muito o Róger, como já tinha ajudado muitos outros pacientes a voltarem a andar e se reabilitar.
Contato efetuado e data de avaliação marcada.