Estávamos em férias ... continuação 30a. carta "Nova empresa de Home Care"

Chegamos em casa com nova empresa de Home Care.

A enfermeira responsável era muito atenciosa e competente. Fazia o possível e o impossível para atender as necessidades do Róger. Ela conseguiu montar uma rotina com alguns plantões fixos de Técnicos de Enfermagem.

E uma pessoinha maravilhosa, um daqueles anjos da UTI, veio cuidar do Róger, noite sim, noite não. Os outros plantões eram realizados por técnicos de enfermagem terceirizados.

O serviço estava muito melhor do que o anterior. Graças a Deus.

A rotina de medicação, de acompanhamento médico, de vistoria de enfermagem, da execução dos serviços pelos técnicos e da equipe multidisciplinar fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicóloga, terapeuta ocupacional, nutricionista, enfermagem proporcionaram a estabilização do quadro clínico do Róger.

Também já era tempo! Os contratempos agora eram eventuais. Um ou outro técnico não se adaptava com a nossa rotina ou a gente não se adaptava com a postura deles.

Um dos técnicos me incomodava, nem sabia dizer a razão. Era uma sensação simplesmente de incomodo. Eu me sentia constantemente “adulada” por ele. E eu nunca gostei de bajulação. Soava-me falsidade. Aparentemente pensava ser essa a razão do incomodo.

Um dia eu precisei sair, não iria demorar, então combinei com minha secretária para me esperar em casa até eu voltar. Nesse horário meu marido descansava para se recuperar do plantão da noite. Logo depois que eu sai, a minha secretária entrou no quarto para pegar roupas para lavar e encontrou a porta trancada. Levou um susto e bateu na porta, chamando. A pessoa abriu, e ela questionou a razão da porta trancada. A explicação foi a mais fajuta que alguém pode criar: “Ia ao banheiro”. “Banheiro? Por que não me chamou para ficar com ele? ou trancasse a porta do banheiro então! E esse é o banheiro do paciente, não seu”. Ela falou.

Foi o suficiente para que a gente redobrasse os cuidados. O técnico foi substituído, pois a situação ficou insustentável. Eu que antes já me incomodava, sem motivos. Agora tinha uma situação mal explicada, sem lógica e sem necessidade.

Os dias passavam. E a cada semana novos técnicos de enfermagem. Alguns ficavam muito bem, nos ajudando bastante durante meses.

E outros foram substituídos: um fumava demais, outros falavam sem parar no celular, outro queria ler revista o tempo todo, outro queria namorar o tempo todo pelo telefone, outro começou a abrir a geladeira e os armários da cozinha, outro queria só trocar a fralda, sem higienizar, outro queria dormir na poltrona, outro queria só dar o remédio e mais nada, outro esquecia até do remédio, outro pegou remédio para levar embora, outro pegou perfume do paciente, outro tinha problema na coluna e não podia fazer força, outro não tinha nenhuma força na movimentação do paciente, outros contavam casos e mais casos de famílias e pacientes, falando sem parar.

Ai Senhor! Tenha piedade! A minha família já estava com tanta coisa para cuidar. Mal tínhamos tempo para descansar. Saíamos somente em caso de muita necessidade. Parece que esses tinham se esquecido do próprio papel nesse trabalho. Eu passei a chamar isso de “embrulhar um pacote”.

Eles cumpriam o plantão como se “embrulhassem um pacote”. Era uma “coisa no balcão”. Esqueceram que era um ser humano em uma cama. Alguém que precisava de ajuda e cuidados. Que devia ser tratado com respeito.

Eles trabalhavam indiferentes às necessidades que o paciente tinha. Por exemplo, se a mão ficasse virada, ficava. Se precisasse levantar a perna, pegavam de qualquer jeito. Como é que alguém melhora, sendo deixado numa cama, passando o dia e a noite sem nem saber se era dia ou noite, ou que dia era, ou o que se alimentava?

Ainda bem que a administração do Home Care buscava qualidade de vida para o paciente e negociava a substituição dos técnicos que não se adaptavam ou tinham comportamento inadequado. E também negociava a permanência daqueles que trabalhavam direito. Era muito bom contar com esse apoio.

Rosa Destefani
Enviado por Rosa Destefani em 22/10/2012
Reeditado em 31/10/2012
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