Carta II
Quero falar-lhe e não sei o que dizer. Que me sinto acorrentada às horas, como prisioneira infeliz, contando-as, minuto a minuto, à espera do momento de solidão, longe dos homens e das coisas, para aproximar-me de ti...? Que a vida para mim é vazia e sem sentido, como um fantasma errante... Que essa distância, tirando-a de mim, é um martírio tremendo, ao qual não sei por quanto tempo resistirei...?
Não sei o que te diga; como lastimo a tristeza que me invade; como choro o tempo que estivemos juntas; como desejo estar perto de ti! Vou dizer-lhe principalmente isto: amo-te muito, mais agora, porque te conheço mais, também. A distância, esta saudade enorme vai tecendo o fio de tua presença a meu lado e já vejo comigo, a todo o momento, uns olhos tristes que me disseram te amo chorando, a boca linda que me beijava entretanto, o corpo voluptuoso que me ensinou a pecar, a voz serena em que se apoiavam minhas palavras apaixonadas e os braços macios que me abraçavam com força!
Pego teu retrato e coloco-o à minha frente, para saber se esta tristeza que me aflige agora tem uma razão de ser, pois você de fato existe e me ama também muito!
Responde-me depressa, mande-me um pouco de você, pois assim talvez alivie um pouco a tortura de amor.
Já não suporto de tanta saudade!