Estávamos em férias ... continuação 22a. carta "Socorro, sentaram na cama do meu filho"
Um enfermeiro entrou e se apresentou como representante de uma das empresas de Home Care, colocou a sua pasta em cima da pilha de travesseiros do meu filho, sentou-se na beira da cama do p-a-c-i-e-n-t-e!
Com a cara de mãe desesperada e sem saber o que fazer comecei a responder as perguntas que ele me fazia.
Eu só pensava em quantas pessoas ele poderia ter avaliado até aquela hora, ou quantos pacientes do Home Care ele poderia ter visitado/atendido e... e se o tal jaleco dele estava contaminado com os bichinhos ou ele teria um monte no carro dele? E as mãos será que ele tinha visto aquela única pia no início do corredor? Por mais que eu me esforçasse a minha mente não se aquietava.
À medida que a gente conversava confirmei que ele era o profissional responsável pelo atendimento técnico de enfermagem do Home Care e que tinham mais de 200 pessoas internadas em domicílio. Mais perguntas apareceram: “Como será que a equipe é orientada por alguém que, no primeiro contato, assim age?” sem nenhum cuidado com a sua pasta colocada em cima dos travesseiros, que teriam contato diretamente com a pele do meu filho.
Eu me lembrava das reportagens a respeito da contaminação de celulares, bolsas femininas e que o resultado era assustador. A partir da rotina que tínhamos vivido até então no hospital em SP com mãos lavadas automaticamente a cada entrada e saída de quartos nas várias pias disponíveis em cada andar e em cada quarto. Os procedimentos cuidadosos da equipe e o protocolo que as visitas e familiares tinham que adotar foram incorporados na nossa rotina. Sim, havia estratégia de prevenção das infecções hospitalares.
Então, por dedução, gerou a dúvida a respeito dos celulares, dos jalecos, das mãos, das luvas, das pastas, das bolsas, das luvas retiradas dos bolsos de jalecos, dos instrumentos passados leito a leito... comecei a perceber que havia um choque cultural ... o que seria normal para nós estava sendo diferente para aqueles profissionais.
Talvez, por isso, passamos a ser chatos aos olhos da equipe interna e externa do ambiente hospitalar.
Eu troquei todos os lençóis e fronhas assim que o rapaz saiu. E troquei várias outras vezes, quando os “maqueiros” se sentavam na cama, quando os “maqueiros” subiam em cima da cama para segurar meu filho, quando os travesseiros caiam no chão, quando o pessoal do laboratório colocava aquela caixinha de coleta em cima da cama, quando colocam bolsas em cima do lençol... e sempre que se fazia necessário.
Eu completava a limpeza do quarto, passando álcool nas macetas das portas, em cima dos armários, no aparelho de telefone, na cadeira de fio do quarto, nos suportes de soro que todos pegavam, no interruptor da lâmpada. E fazia isso feliz!
Nós estávamos confinados em um quarto do hospital. O Róger estava bem, não tinha febre, não tinha dor, não tinha nada que justificasse a sua permanência. E assim os dias se passavam. A equipe médica alertando do risco de infecção hospital e cobrando resposta do convênio a respeito do Home Care. A equipe do hospital trabalhando normalmente em uma rotina que aos meus olhos estavam muito longe da prevenção da tal infecção hospitalar.