Carta de Amor
A pedido de uma amiga, apaixonada, tão humana quanto qualquer outro que comete esse erro.
É entre sorrisos e lágrimas que descobrimos o amor.
Foi bem assim que te descobri.
Inegável, estranho. Não há sequer uma sequência de fatos, estórias concretas ou mesmo motivos que embasem qualquer um desses sentimentos. Mas, meu Deus, eu lhe juro: existem!
Porque amor não é algo que se entenda, querido. Amor não é algo que viva de razões. Amar sem motivos, amar sem fronteiras, amar sem saber, sem entender, sem querer. Acontece. Assim, simples, rápido.
E quando me pego pensando em você, acha que procuro motivos? De forma alguma! Não quero razões. A verdade é óbvia, está disposta de maneira que só um cego não veria. Fiz-me cega, então, apenas para não ter de encará-la! Ah, é o medo. Acho que medo e amor andam juntos, juntinhos ainda. De mãos dadas, mas em lados opostos. Porque com medo não se tem amor. Afinal, o que é este senão um vácuo escuro e inexplorado? Daí que nos surge o medo, o medo do desconhecido. Subir num palco sem saber as falas, sem conhecer os personagens, tendo que encarar uma platéia ríspida e exigente, até mesmo cruel, neste caso. Isso me assusta!
Mas é olhar em seus olhos que todo o medo evapora. Derreto-me, são tão doces. São ingênuos, sensíveis. Nos teus olhos não há o veneno que lanças pelos lábios, não há a maldade que tens em teu coração, nem mesmo a agressividade de suas mãos. Só o cândido mel que me faz delirar, me perder.
E por fim, falta apenas reafirmar, aquela verdade, da qual eu me nego, me escondo, mas que tanto eu quanto você sabemos: não existem aqui os fatos, não existe aqui a realidade, senão um vacilo meu, e apenas meu, que não será compartilhado. Não existem aqui as chances, porque eu não as permiti. Eu fui direta, não soube esperar e agora só me resta a minha própria pressa, a minha platéia ríspida, meu coração, e, é claro, seus doces olhos.