Cartas que nunca chegarão ao destino (nº 03)
Goiania, 05 de Outubro de 2012.
Lá se vai mais um ano sem você. Outro ano que finjo ser o que não sou, por dentro morro a cada dia que passa. Por vezes me pego pensando em como eu teria vivido de forma diferente se você não tivesse partido daquela forma. Quando chega o fim do ano fico pior. É insuportável, às vezes viver assim.
Choro.
Ninguém vê... ninguém sabe... mas choro... sempre... como agora enquanto lhe escrevo esta carta que nunca lerás.
Como queria lhe abraçar de novo...
Como queria poder gritar de dor... às vezes até grito quando a dor não cabe no peito, mas é um grito mudo... um grito da alma...
Já são quase 26 anos sem você, PAI!!!! Não pensei que eu fosse aguentar tanto por tanto tempo! Mas aguento por você, PAI!!!
Lembro do que me ensinou no pouco tempo que passamos juntos e tento ser o melhor que você espera que eu seja, por você que eu ainda me levanto... por você que ainda não desisti de tudo... Por você que tento ser um bom pai...
Sabe, não sou mais criança. Sou homem agora. Mas caio em lágrimas sempre perto do dia 12 de Outubro. Penso em tantos dias 12 de Outubro que perdi... quantos abraços que me foram negados. Não por você, não me lembro de um único abraço, um único afago que você tenha me negado, PAI!
Depois ainda vem Novembro, todos se preparando para o Natal e eu só penso em nossos únicos 9 natais que passamos. Só 9! Agora será o 25º Natal sem você. Não consigo comemorar o Natal como deveria, por quê sempre falta você... Janeiro é terrível! Tento não pensar em Janeiro, mas fico triste em Janeiro... foi em Janeiro...
Meu filho tem 8 anos, pai. Adora vídeo game, como eu e como você. Tenho um PS3, mas ainda guardo nosso Atari 2600. Quando posso jogo até de madrugada com meu filho. Se lembra quando jogamos Space Invaders até a madrugada? Space Invaders me lembra você... tudo me lembra você...
Pai, as lágrimas rolam agora e não sei se consigo mais continuar...
Choro feito criança... sinto como se estivesse aqui agora...
Passei por tanta coisa sem você, sempre imagino que conselho teria me dado nessa ou naquela situação... sempre imagino que você me protege... que me guia...
Pai, tem tanta coisa que eu queria ter lhe dito. Não me lembro de te dizer EU TE AMO, mas sei que sabe disso. Sei que sentia o amor que sinto por ti em cada viagem que fazíamos no seu Fusca amarelo, não gosto mais de Fusca.... (um riso se mistura às minha lágrimas)...
Seu neto é uma figurinha e tanto. Fico imaginando nos três pescando, viajando de Fusca... acho que você até jogaria com a gente no meu PS3, eu até tenho o Space Invaders Evolution...
A vida não tem sido fácil nesses quase 26 anos...
Ainda guardo aquele segredo, um dia conto pro meu filho... ninguém sabe que naquele dia eu segurei sua mão e tentei te levantar... só nos dois...
Pai, não consigo mais escrever... minha cabeça dói... as lágrimas escorrem... a garganta soluça...
Sei que nunca lerá esta carta... sei que não pode ler esta carta... mas a escreví assim mesmo... espero um dia poder te falar desta carta... espero que esteja bem...
Seu filho.