CADERNOS DE HAIDIAN – 7: TAL-QUALMENTE MOÇAMBICANO

Quinta-feira, 23 de Setembro de 2012

Já rabisquei sobre a fama que tenho entre os meus colegas. Eles titulam-me “wizard”! O ás dos computadores! Seja qual for o problemazito, lá o Pedro é requerido: “Pedro!” (com inúmeras dicções inaceitáveis), “… Could you help me?” Como se eu tivesse arbítrio! Surpreendente: a minha fama chegou à embaixada. Tinha lá que ir. O meu guia chamava-se Michael. É tal-qualmente moçambicano e fala tuga. Fenomenal! Já tinha saudades de pensar no idioma de Craveirinha. Voltando ao Michael, ele é o presidente da Associação dos Estudantes da Pérola do Índico por cá. Vive em Pequim há 5 anos e o resto é dedutível.

Caminhei até o “East Gate”. Lá encontrei-me com o guia. Ele fez as honras e comprou os bilhetes para o metro. Conversámos. Sobretudo sobre políticas públicas. Fizemos confrontações e especulámos resultados. Que raio se passa com Moçambique? Esqueci-me de dizer que Pequim tem uma das melhores redes de transportes do mundo! … Senti-me pejado ao recordar-me de Maputo. De Haidian até Sanlitun, a zona das embaixadas, tínhamos que trocar apenas uma vez de linha, de 4 para 10. Isso não ocorreu: perdemo-nos na conversa. E mais uma vez, e mais outra. Acabámos desgarrados naquele labirinto sem nenhum Minotauro. Mas lá o guia soube recompor-se, e enfim pudemos recarregar os pulmões com um pouco de ar fresco.

O funcionário da embaixada não podia ser mais afável. Recebeu-nos com salvas de César e honras de Confúcio. Gostámos e degustámos. Examinei o computador e apliquei-lhe algumas injecções de softwares. Excelente! É essa vontade que falta ao sistema político moçambicano. Depois seguiu-se o jantar num restaurante muito “western”. Uma miscelânea de velhos sabores, saboreados com novas atitudes. O relógio marcava 9 e mais coisa. De regresso ao campus, no Toyota, conversámos sobre China, Bakir, mega-projectos, madeira, exploração mineira… e mulheres. Antes de adormecer olhei fixamente para um dos desenhos que colei à minha parede, um cão de fato e gravata. Dormi a pensar no nome que lhe devia dar.