Nossa fuga sempre foi em direções contrárias.
Henrique,
eu prometi não lhe escrever mais. Se doesse, se sangrasse, se meus lençóis ficassem ensopados de lágrimas e de dor, eu não colocaria as mãos em volta de caneta alguma para traduzir meu vazio em manchas negras sobre o papel. Desapareceríamos dentro de vidas distintas: o problema estaria resolvido.
Pergunto-me, porém: você é capaz de lembrar de qualquer juramento que eu tenha lhe feito, quando não pode se lembrar de nossas promessas mais doces de eternidade? Ao negar em minha mente, milhares de vezes, qualquer chance de lembrança sua, dispus-me a escrever. O céu caiu em minhas mãos treze vezes, e doze delas foi por querer você. A última, por saber que esse jogo de ter-lhe e abandonar-lhe tão constantemente acabaria um dia. E acabaria com a despedida, nós sabíamos disso.
Ouvi, um dia, que a saudade é a presença da ausência de alguém que se ama. Gostei disso: de alguém que se ama… Eu já lhe escrevi todas as palavras possíveis. Já pedi que voltasse, já pedi que fosse embora de vez. Já fui capaz de te condenar por deixar-me sozinha, já pedi-lhe desculpas por ser tão egoísta. Hoje, porém, só digo que lembrei-me de você. E se eu parasse em sua frente, olhasse para a alma espelhada em seus olhos, e gritasse, sem palavras, que machuca e sangra lembrar-me de nós, você ficaria?
Não.
Você fugiria.
Como ainda fujo de nós.
Perdoe-me, Henrique… Perdoe-me.