A traça e o e-book

Prezados senhores livreiros,

Não tivemos voz, não fomos consternação de leitores ou escritores. Nem mesmo os mais conservadores, loucos por antiguidades como nós, propuseram -se a nos defender. Não tivemos voz, não temos sindicato, bancada política ou simpatizantes. Não temos dia no calendário, não votamos, não compramos, não valemos. Não há política que nos abranja, não há ONG que nos proteja. Não temos credo, nem cor, nem gueto. Não sei por que acreditamos existir.

Gostamos de arte, amamos os livros, devoramos obras literárias. Respiramos papéis, sonhamos com bibliotecas. Não discriminamos gêneros, somos loucos por livros. Mas não tivemos voz.

Não tivemos e não devíamos ter. Vamos aos senhores por meio escrito, nosso meio. Não iremos nos ater ao falado, somos aficionados pela tinta no papel, pelo grafite no papel, pelo silêncio no papel. Seja assim, como lhes convier, mas não nos privem do papel. Acrescentem-nos na lista de razões para não aderir aos e-books. Precisamos de livros assim, concretos.

Certos de que ainda que inaudíveis, pudemos fazer-nos legíveis, com nossos montes de palavras, agradecemos,

As Traças da sua estante.

Gabriela Sanmar
Enviado por Gabriela Sanmar em 28/09/2012
Reeditado em 28/09/2012
Código do texto: T3906210
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