Para DESTINATÁRIA OCULTA E CERTA

Querida, teus versos me transtornaram. Por Deus, não fique imaginando que eu sofri um desmaio ou perdi a consciência. Permaneci de pé, ou melhor, sentado. Era nessa posição que me encontrava quando abri a tela e lá estava o poema dedicado a mim. Embaraço mental. Enxergava o texto e entendia o que te propusestes a transmitir. Se me perguntassem onde eu estava e que dia era, as respostas soariam imediatas e precisas. Então, não passei por nenhum abalo à saúde. Mas que eu estava vivenciando um estado perturbador, lá isto é verdade. Tanto que há horas venho tentando escrever esta carta mas está difícil. Sempre tive fluência para a escrita, só que agora um núcleo do cérebro parece travado. Sei o que preciso e pretendo dizer, mas o texto não se estrutura como eu quero. O que sai parece-me distante e muito aquém do que mereces e eu intenciono. Recusava-me a crer que justamente EU era (SOU?) o destinatário de tão arrebatadora tecitura literária. O texto, no aspecto redacional, ficou impecável. Como todos os que produzes, diga-se.

Mas o que me perturbou mesmo foi a carga pesada de amor contida em cada verso, frase, palavra e letra lidos por mim . Afeto. Desejo carnal trazido ao ápice da expressão libidinosa. Estes, os ingredientes da receita que deu à tua carta o efeito estonteante. Mas o curioso - e, diga-se, para meu integral prazer - é que não estava expresso ali um impulso corporal puro e simples, ofertado a preço qualquer. O timbre é o da entrega irrestrita e incondicional. Amor com endereço e alvo certos. Extravasão sentimental por um homem específico: EU! E, aqui, a razão do meu tumulto cerebral. EU! Eu era e sou o objeto de desejo. Do TEU! E de uma forma que desconhece limites e dispensa qualquer contrapartida que não seja o próprio amor e a minha disposição em recebê-lo. Sentir-se desejado já gratifica emocionalmente, eleva a um patamar elevado de orgulho e vaidade qualquer ser humano. Mas da forma como expressastes teus sentimentos, fui levado para muito adiante: comoveu. Emocionou. Desmontou por completo minhas defesas...convulsionou-me, fez desabar de uma só vez toda a armadura sentimental que me fazia sentir imune a pieguices e apelos amorosos. Até então, amor para mim consistia apenas só no encontro de corpos ou no encaixe de partes destes para obtenção de um prazer físico transitório, fugaz, passageiro, de preferência quando pago, mesmo consistindo, a remuneração, na prestação de um pequeno favor e não no dinheiro. Meus códigos de convivência fizeram-me acreditar que tudo é objeto de troca. Tu me levastes ao confronto com uma realidade diversa: existe um amor que dispensa essa modalidade de recompensa: O TEU, o TEU amor! Exatamente o que me propusestes. Fizeste-me conhecer que tudo pode ser alcançado através de troca, mas, no amor, quando verdadeiro, a moeda pode ser...O PRÓPRIO AMOR. E mais: que em certos casos, como o teu, a recompensa pelo amor ofertado traduz-se, simples e tão somente, em aceitar o recebimento do amor ofertado.

Embaraçado mentalmente pelo teu amor derramado, transfiro o final do texto para um outro capítulo.

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 27/09/2012
Código do texto: T3904083
Classificação de conteúdo: seguro