Estávamos em férias ... continuação 17a. carta "parecia um gemido...um som baixinho... meu coração disparou..."
Ouvi um ruído, parecia um gemido ou um grito sufocado.
Estava deitada no sofazinho do quarto de hospital. Levantei-me e me aproximei do Róger. Aproximei mais e tive certeza, era ele mesmo que estava fazendo aquele som. Meu coração disparou e conversei com ele. “Filho, está tudo bem. Nós estamos cuidando de você”. Abracei-o. E ouvi novamente um som baixinho.
Parecia que ia explodir de felicidade. Meu filho estava tentando se comunicar. E eu tinha ouvido. Queria ligar para meu marido e contar-lhe a novidade. Mas, era noite e ele precisava dormir. A gente reveza as noites com o Róger no hospital.
Precisava contar isso para alguém. Achei melhor não ligar para ninguém, pois levariam um susto desnecessário. Sem pensar toquei a campainha do quarto e a enfermeira Zildete apareceu. Eu estava emocionada e não conseguia nem falar. Ela carinhosamente me abraçou. E me esperou explicar que eu tinha ouvido um barulhinho, um som emitido pelo Róger. Ela carinhosamente me ouviu e compartilhou aquela alegria comigo. Talvez nem tenha acreditado, mas ficou feliz comigo.
Nos dias seguintes solicitei inúmeras vezes para ele fazer o som novamente e ele murmurava tão baixinho que muitos não escutavam. Que alegria era ouvir aquele som. Era uma expressão de estar vivo e que estava começando a querer se expressar.
Até então, o Róger não tinha manifestado nenhum sinal, nenhum movimento, nenhum som. A sua luta era para ficar vivo. Para seus órgãos internos continuarem funcionando, para seu corpo lutar contra a infecção.
Seu corpo também passou a dar sinais, aparecendo manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. A princípio o médico pensou em alergia. Não era.
Era uma expressão de dor/incômodo no corpo, quando passava 2 horas do mesmo lado e queria virar para outro lado. Os técnicos de enfermagem ficavam observando para confirmar que as manchas avermelhadas sumiam pouco tempo depois de ser virado na cama. E sumiam.
Por vários meses o Róger expressou seus incômodos no corpo. As manchas vermelhas apareciam e desapareciam após mudar a posição na cama, na cadeira.
Pedíamos para ele apertar nossa mão como opção de comunicação. Sem êxito. Pedíamos para ele abrir os olhos e nada.
Um dia ele abriu! A gente nem acreditava! Pedíamos para ele piscar os olhos. Demorou, mas piscou. Pedíamos para piscar uma vez, duas vezes, três vezes. Um dia ele piscou, uma vez. Depois, duas. Depois três.
Daí a gente começou a solicitar para ele piscar uma vez quando fosse SIM e duas vezes quando fosse NÃO. Algumas vezes parecia que a resposta era coerente, outras não.
Assim, prosseguimos falando seqüências de números para ele piscar a cada algarismo. E a piscada passou a ser uma alternativa de comunicação. Sim ou não.
Eu não me lembro de quantas horas, dias, semanas ou meses tudo isso durou. Durou o suficiente para entendermos o quanto a recuperação do nosso filho precisava de tempo. Durou até ele conseguir substituir as piscadas por sons, depois palavras, depois frases.
Hoje ele já fala, conversa, pergunta, responde. É preciso ter Fé. Acreditar. Trabalhar. Insistir. Dar tempo ao tempo.
Hoje ele ainda não anda. Mas, será preciso ter FÉ. Acreditar. Trabalhar. Insistir. Dar tempo ao tempo.