Carta a uma amiga

Lembro-me bem da primeira vez que nos vimos. Você era pequenina, assim como eu. Porém a felicidade foi enorme ao te encontrar. Não acreditava, fazia mil perguntas. Poucas você soube responder.

De começo tudo era festa. Corríamos a valer pelo quintal, engalfinhavamos-nos pelos tapetes de casa, até bola jogávamos juntos. Sentia, dia após dia, que nossa amizade crescia. A cumplicidade aumentava. As tardes de sol deitados no quintal. As bolachas Maria que dividíamos após o café da manhã.

Nossa relação não tinha um dono. Quantas vezes você não escutou minhas lamentações, quietinha, e sempre me entendia. Também não foram poucas as vezes em que te acolhi em meus braços, percebendo sua aflição com algo. Inúmeros foram os Reveillons que passei em claro, te acalmando por conta dos inesgotáveis fogos de artifício que tanto te apavoraram. E quando eu voltei do hospital, ainda em recuperação, você estava lá me esperando no portão, e me recebeu não com a tradicional festa que sempre fazia, mas sim com um leve beijo, quase que um bem vindo de volta.

Muitas coisas vivemos lado a lado, passeamos nos parques, viajamos juntos, você conheceu a praia, pulou as ondas, correu atrás das gaivotas. Também devo lembrar que já me deste muita dor de cabeça, quando no dia em que fugiu de casa, sem deixar qualquer aviso. Por sorte te encontramos novamente, perdida próxima de casa, e você jurou nunca mais fazer aquilo, que não iria me deixar de jeito nenhum.

Mas o tempo, aquele sobre o qual não temos controle, passou rápido demais. Você tentava ter o mesmo vigor de antes, mas não acompanhava mais meu ritmo. A bola que eu jogava demorava a voltar. Por dias você se isolava, quieta em seus pensamentos. Eu custava a admitir, mas o tempo estava nos vencendo. Sim, eu tinha consciência de que cedo ou tarde você iria embora, mas que fosse o mais tarde possível.

De repente você ficou doente. Eu tinha a esperança, assim como de todas as outras vezes, que você fosse melhorar. Mas aquele domingo de manhã foi diferente. Ao acordar, fui em sua procura. Nada na sala, nada na cozinha, nada em seu quarto. Foi quando me deram a notícia: você tinha ido, dessa vez para sempre. Não, não, não! Só me restava chorar…

Por tempos recusei outras amizades como a sua. Porém cedi recentemente. Arrumei uma nova amiga. Não, ela não veio para te substituir! Veio para me lembrar de todos os momentos que passamos juntos, do quanto foi bom cada segundo ao seu lado. Veio para me lembrar do quanto essa amizade é verdadeira, pois vocês não pedem nada em troca. E que essa minha nova amiga de continuidade em tudo o que você me ensinou, tudo que me trouxe de bom na vida. Você me ensinou muitas coisas, esteja certa disso. E para onde eu for, te levo eternamente em minhas lembranças, sonhos e pensamentos.

Beijos minha grande amiga,

um dia a gente se encontra novamente.

DanBraga
Enviado por DanBraga em 26/09/2012
Código do texto: T3902341
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