Uma hora passa
Intocável! Apenas por essa noite gostaria de ser inatingível. Ou simplesmente não ter tão boa memória. Tudo bem que não traria comigo tantas boas lembranças. Mas também não lembraria dessas dores enlouquecedoras. Insanas. Sem sentido. Gostaria que meu coração não sentisse, buscasse e esperasse tanto. Tudo aquilo que hoje já não encontro quem seja capaz de me oferecer. Ou mesmo me proporcionar a vontade de retribuir à altura. Porque é fato. À medida em que conheço pessoas que - mesmo que momentaneamente me encantam e nada têm a oferecer - também encontro pessoas a quem sou eu quem encanta. E, em grande parte do tempo, sou eu quem nada pode oferecer. Por estar preso às falsas ilusões. À "castelos de areia movediça" que nada me acrescentarão. Mesmo sabendo que a qualquer momento posso encontrar - e me entregar a - alguém que mude todo esse paradoxo estou a ponto de desistir de tudo. De lutar, de sofrer, de esperar por aquilo que já não sei se vai chegar. Posso ser frio comigo mesmo. Mas precisamos amadurecer, não é mesmo? E fazer por nós aquilo que somente nós podemos. Sem esperar que alguém assim o faça. Chega um determinado momento de nossas vidas que precisamos olhar somente adiante. Não buscando esquecer o passado, apenas aprender com ele. E mudar. Mudar faz bem. Manter-se parado no mesmo lugar, nos mata pouco a pouco. E não quero mais "morrer aos poucos". Quero sim, viver! Apagando, ou mesmo amenizando, tudo aquilo que já foi ruim e tenha causado alguma dor. Aquilo que não mata, fortalece. E hoje me sinto mais forte, mais vivo. Mais certo de mim mesmo. Talvez, se ainda estivesse tão preso, nada disso poderia ser tão real. A realidade machuca. A dor? Essa uma hora passa.