Em 23 set 2012

Conscientemente ignoro o real motivo de tal indagação, recorrente em minha mente, quanto a este, digamos, insano sentimento.
A quem importaria gerar tal dúvida?
A quem importaria sanar tal dúvida?
A quem importaria confirmar uma verdade ou negar uma mentira?
Nesta altura de acontecimentos, de veladas ações, rejeições, deveria eu não ter mais a mínima dúvida...
Mas por dissolução de todos os apegos e sentidos, por teimosia quem sabe, vejo-me em uma tal teia de emaranhados complexos e desconexos pensamentos, sonhos, semblantes e armadilhas de uma insanidade avassaladora que se instala em todo o meu ser.
Já não me encontro em realidade, não há condição para isso, vivo, o pouco que vivo - se é que eu vivo (sic), em momentos de total imersão em sonhos, não me encontro mais em mim mesmo, nada mais a fazer, pois não me identifico mais em nada, material ou não, a tudo estranho e nada encontro, em mim ou em outros.

Vislumbro-me lá e não aqui, naquela esquina daquele distante bairro, tal Jardim,  naquela rua de cunho militar e espírita , cortada por ruas e travessas  de seguidos numerais, com a visão constante de uma construção imponente,  mais assemelhando-se a um forte, poucas janelas, protegidas, a prover visão de dentro para fora e ao mesmo tempo não permitir nenhuma visão de fora para dentro, a proteger seus ocupantes de minha pessoa ou a proteger minha pessoa de seus ocupantes, a me tolher de qualquer sentimento de qualquer natureza, a me privar de qualquer ação, boa ou má, de integridade ou não.
Encontro-me lá, sempre, e não sou visto, e não vejo nenhuma alma, especialmente ela, não há nenhuma movimentação, somente um negro portão, forte barreira, muros altos com pontiagudas lanças a evitar qualquer  tentativa de acesso, dois pavimentos, muro claro - parece até certo ponto laranja - , janelas altas tipo basculante, nada de aço ou vitrais, madeira mesmo, sem brilho, sem verniz, em diferentes níveis, em contraste com o resto da fortificação, a propiciar, quem sabe, alguma futura Rapunzel a jogar tranças longas para algum desavisado transeunte.

Como poderia ela, desse modo, a partir daquela edificação, ver a mim como realmente eu sou, ver a lua sobre mim, ver meu coração despedaçado, minha alma imersa em uma profunda tristeza , ver meus olhos afundados em lágrimas, minha vida sendo drenada de todas as minhas ínfimas alegrias e forças, de todo o sentido de ser eu mesmo, com minhas qualidades e defeitos , sendo eu exaurido de todo o resto de amor.

Mas, a ela, não há ainda em si nenhum entendimento de vida, de sentimentos, não há sorriso em sua face, parece feita e alimentanda em uma dor muito forte, uma pesada mágoa , palavras presas, contidas, aprisionadas em alma e em coração , sendo mais importante para si demonstrar apenas fortaleza, tal qual sua edificação, não há ali lugar para sentimentos, para compreensão e aceitação do outro, para afagos, carícias, nem recebidas muito menos oferecidas, demonstradas e permitidas em retribuição ou em sinal de compaixão...

Restou a ela, para aquela garota, a atitude de ser isolada, uma ilha, autossuficiente , completa, complexa, total, aço puro, sem nenhum brilho.

Tragédia das tragédias: sua dureza a impede de ver-me como eu realmente sou e minha fraqueza me impede de fazê-la enxergar como eu sou, verdadeiramente, por inteiro.

Somos culpados e este deve ser o nosso castigo, este desencontro de sentimentos.

Sou amado?

Amo?

Sem oportunidade nada há para se entregar!


(Advertência:Relato não preciso, um tanto quanto vago, de um sonho, talvez alucinação, em um momento de profunda tristeza, de sentimento das dores do mundo e de um imenso vazio existencial, alimentando por discórdias, discussões, falta de paz...)






 

Vauxhall
Enviado por Vauxhall em 23/09/2012
Reeditado em 23/12/2017
Código do texto: T3897269
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