Carta a um reencontro

Geralmente me sinto criminosa, me sinto fraca e hostil; me sinto fresca, exaltante quase uma balança de precisão. A veracidade de um fato pode ser comprovada com inúmeras comparações de ambiente, concluindo-se: Promessa – na língua humana – é desacato a própria autoridade. Desde já, me conheça por si só, e não por está em conjunto com alguém ou alguma coisa. De fato, quando de mim mesma me vesti foi para contemplar o brilho lunar como sendo a chama do colo seu; todos os beijos inanimados de noites frientas tomei em meus lábios, que sentiam que sugava o seu gosto de areia molhada em terras de quentura. Este era o meu grão de açúcar numa xícara de café salobre oferecida por um deserto de multidões cantarolantes, portadores de olhares que apontam e escreve...

Quando só, mais de uma vez eu penso em nada. E o que seria do nada se não fosse a mim! A mim e tão somente o meu desequilíbrio de insistências absurdas sob a face de um ser tão humano, que é a fé humana, e tão abismal. Sei, ao menos, o que não é querido. Desdobro-me por entre vias paralelas de imaginações sinuosas, penetrantes e concebíveis ao que se perpetua em meio à cantiga de solidões perfeccionistas. Ao contrário do que dizem de tudo eu me alimento, ainda que não se ouça nenhum bater de queixo. Me enche exageradamente a boca de saliva o odor de um cordeiro ciscante, por exemplo, e uma parede cuspida...

Queria viver e não ter que morrer nunca, não morrer absolutamente de nada; nem abandonar ninguém no meio do caminho, porque até as moedas são jogadas para o alto e têm duas faces. É dado ignorante atestar contra a sanidade de alguém, quando se é o que é hoje em dia: Controverso(a). E eu o sou pela ocasião em que eu mesma aspirei de modo universal glândulas sebáceas pertencentes a artérias suas, remanescentes do ato de consolação do que era sórdido e robusto. Tem tempos que sobrevivo do gosto da imparcialidade das horas do dia, mas como ele foi oportunista, talvez sábio em pôr-me à frente de meu pulsar ensurdecedor; de minha forma gélida de calor tremente, ao apontar em minha vista seu espectro andante... Mas afinal, qual seria o preço do não sacrifício?

BLANCHETT, Lidiane. Assu, 06 de fevereiro de 2010