Estávamos em férias ... continuação 12a. carta "os detalhes do 3o. andar"
No 3º. andar também havia pias para lavagem de mãos. Só que a equipe tinha mais pacientes para atender.
Um técnico de enfermagem – Fernando – que nos atendia diariamente, carinhosamente nos preparou para cuidar do Róger nas próximas fases.
Foi o primeiro que nos orientou para prevenção de escaras – feridas de pressão na pele – com três pequenos cuidados: lençol esticado, pele limpa e seca e mudança de decúbito (posição na cama) de duas em duas horas.
A troca de fraldas iniciava com água e sabonete, lavando mesmo, enxaguando bem, secando direitinho e ajeitando as fraldas na virilha para não apertar. Ele não ficou com assaduras, nem com escaras. Graças a Deus.
Os técnicos desse hospital tinham o maior orgulho de contar que tinha pessoas internadas por longo tempo não tinham escaras. E eram pessoas sem famílias, ou que recebiam visitas esporadicamente.
A mudança de decúbito era rigorosamente de duas em duas horas. Dia e noite. Os procedimentos eram realizados sempre com 2 pessoas. Ao fim de um plantão a equipe vistoriava cada quarto procurando deixar o paciente limpo, quarto arrumado e medicações ministradas. A líder da equipe ajudava no que fosse necessário, não deixando pendências para o próximo plantão, sempre que possível.
O banho era “o banho”. Inicialmente eles nos pediam para sair do quarto. Depois pedimos para acompanhar e foi autorizado.
Aprendemos, primeiro observando, depois aprendendo passo a passo, qual a melhor forma de transferi-lo da cama para a cadeira, e vice-versa. Com o uso de técnica certa, lençóis, juntava segurança e eficiência. Nesse hospital não tem “maqueiros”, aqueles profissionais que carregam, transferem pacientes dentro do hospital. Todo procedimento com o paciente era efetuado pelos técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, enfermeiros.
Imaginem a nossa alegria quando chegamos no quarto e encontramos o Róger, limpo, cheiroso, lindo, sentado na poltrona. Graças ao bom Deus. Nossa!! Que felicidade.
Hoje eu me dou conta que só no 3º. andar a gente começou a entender a complexidade da recuperação do Róger. Aprender cuidar do nosso filho. Nosso filho precisava de cuidados para tudo.
... Cuidados diretos com ele.
... Cuidados indiretos com ele.
Eu não acompanhava a sessão de fisioterapia respiratória. Era doido demais. Ficava fora do quarto esperando. Como disse anteriormente, sempre tinha uma pessoa da nossa família nos acompanhando, no decorrer desses meses. Houve um dia que duas tias do Róger acompanharam o procedimento e me alertaram que havia diferença de atendimento de um fisioterapeuta para outro. Isso começou a me preocupar. Então, fui entendendo que estava errado. Eu precisava acompanhar. Me enchi de coragem e pedi forças para Nossa Senhora e passei a acompanhar o tratamento.
Fui ficando intrigada e comecei a questionar. Por que um faz isso? Por que outro não faz? E vi que precisava pesquisar. Busquei artigos na internet com fontes seguras, é claro. Estudei.
Cheguei a ter pesadelos. Sonhei que um profissional tinha acabado com as cordas vocais do meu filho. Isso aconteceu após um atendimento específico de um profissional da fisioterapia. Eu não sabia o que era. Somente sabia que havia algo errado. E fiquei observando. Um dia estava aguardando na saleta do andar e esse profissional passou. Eu devo ter mostrado no meu rosto a agonia sentida. Outra pessoa, acompanhante do marido, olhou para mim e perguntou: “você também não gosta dele?”. Acenei com a cabeça que não. E conversamos a respeito, constatando que tínhamos razão da sensação. Não tive dúvidas. Conversei com a responsável do hospital, pedi para evitar que aquele profissional atendesse meu filho. E assim aconteceu.
Lembrando: Cuidados diretos com ele. Cuidados indiretos com ele. É disso que estou falando.