Amiga,

passa o tempo.

Não há momentos pacatos

horas soltas

versos em festa

Passa o tempo, amiga

O calendário nem tem tempo de desbotar

tamanha é a ira da vida

dias curtos, noites longas

insone lua a desprezar percurso

onde anda a ternura?

por que não caem nuvens

no aconchego do travesseiro?

seria um santo ou um coelho

o morador eterno do mundo

lunático que me fita cego

sem oferecer aconchego?

ah! que o tempo passa

ah! amiga, que tudo é fumaça

e cinza, no meu cinzeiro

e no entanto, de olhos atentos

ouvido alerta

ouço pássaros no terreiro

queria apenas reter o tempo

alongar os dias

e ouvir sonatas muitas

despertando a vida

que cruel

insistiu em dormir primeiro.