Estávamos em férias ... continuação 11a. carta "Os detalhes do 9o..andar"
O quarto do 9º. andar era espaçoso, tinha uma pia para lavar as mãos logo na entrada. Havia outras pias no corredor. Isso nos chamou a atenção. E logo nos adaptamos com a rotina de lavar as mãos na primeira pia da entrada. Chegávamos no quarto e lavávamos as mãos novamente.
Mania estranha, né? Parece, mas não é. O hospital investiu na prevenção de infecção hospitalar com a lavagem das mãos, e outras rotinas.
Um dos nossos primeiros aprendizados. A lavagem de mãos não se restringia na UTI. Era um procedimento amplamente utilizado naquele lugar.
A princípio ficamos sentados olhando nosso filho dormindo. Como ele é lindo! E ele dormia. E nós esperávamos. E ele dormia...Quando abria os olhos, nós conversávamos com ele e tínhamos certeza que ele ia nos responder. Em seguida dormia de novo. Dormia. Dormia.
E chegou o fisioterapeuta. E depois a visita da clinica médica e depois do neurologista. E depois a fonoaudióloga. E depois coleta de exames de sangue. E... Todos realizavam seus procedimentos e ele ficava de olhos abertos. Iam embora e ele dormia.
Dias se passaram. E houve a tentativa de tirar a traqueostomia. Foi um sucesso. Os médicos não esperavam, mas ele respirava tranquilamente com a traqueo fechada. Os fisioterapeutas e fonoaudiólogas fizeram um trabalho em conjunto que levou a decisão de tirar a traqueo.
O doutor falou: “Vamos tirar a traqueo!” Nossa!! Que alegria. O Róger ia ficar livre dos procedimentos de “aspiração” realizada pelos fisioterapeutas. Eu nunca tive coragem de assistir. Era um sofrimento, ficar do lado de fora ouvindo aquele som.
Dias se passaram e a fonoaudióloga decidiu ajudá-lo a voltar a comer. Após a confirmação de que não havia broncoaspiraçao, após o teste usando um corante “azul”. A broncoaspiraçao é um dos maiores riscos para um acamado.
Imaginem a nossa alegria quando ela começou a ofertar sorvete, geléias, picolé e ele começou a saborear, reaprendendo a engolir. Reaprendendo a tossir, se houvesse engasgo. Reaprendendo a comer.
Era a melhor hora do dia. Dias se passaram e a evolução continuava. Cada dia uma novidade. Cada dia uma bençao. Cada dia um milagre. Um renascer.
Dois grandes objetivos: tirar a traqueostomia e a gastrostomia permitindo ao Róger respirar livremente e comer pela boca. Imaginem a nossa alegria.
A traqueostomia foi retirada ainda em SP. No entanto, a gastrostomia só seria retirada meses depois. O terceiro objetivo que traçamos era retirar as fraldas. Tudo a seu tempo.
Na semi-uti do 9º. andar a maior responsabilidade era da equipe e a vigilância e acompanhamento era nossa. O Róger passou algumas semanas no 9º. andar.
E os médicos avisaram: “vamos dar alta para o Róger”. Logo ele vai para um quarto comum do hospital e depois para um Home Care.
Todas sensações ao mesmo tempo: alegria, gratidão, superação, medo, angústia voltaram. A mesma falta de segurança sentida ao deixar o 11º. andar voltou.
E lá fomos nós ao 3º. andar.