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Ando pensando em como poder traduzir em palavras, sentimentos e imagens que se formam em nossas mentes e o tênue limite entre a realidade e a fantasia, o sonho ou a ilusão. A grosso modo parecem-me iguais, mas como distingui-los? Onde começa a fantasia e reaparece em sonho, que tem a possibilidade de tornar-se uma realidade? O que a realidade?

Ah, as minhas fantasias e os meus sonhos!

Fantasiei tanto em minha adolescência! Que coisa boa! Na década da consolidação da televisão, o aparecimento das tecnologias ao público que, nem de longe, imaginava que poderia ser possível. Dos seriados de televisão fantasiosos como Jornada nas estrelas, túnel do tempo, perdidos no espaço, etc.

Alguns ainda são para nós fantasias; melhor dizendo, ficção, pois, nós, o povo, não temos acesso às descobertas cientificas que provavelmente devem estar escondidos a sete chaves em algum lugar do planeta. Isto também é fantasia?

Minhas fantasias mais particulares pertenciam a uma mente criativa, e que nunca saiu de lá. A mensagem que passavam para nós, habitantes do terceiro mundo; naquela época, nada progressista, estagnados no preconceito, na ignorância e na quase falta de perspectiva. O ideal era:

1- Estudar nos Estados Unidos, influenciados pela campanha americana de que lá era a cidade de Lolaia, lugar perfeito para aprender, crescer como pessoa e enricar. O típico sonho americano vendido para o resto do planeta.

2- Estudar inglês. Ah, eu estudei inglês pela televisão, durante dois anos, sempre no mesmo horário. E pensar que olhando para trás, vi uma adolescente que era autoaprendiz e que não tinha ideia alguma do que isto significava.

3- Sonhava com uma carreira em que seria uma brilhante. Só não sabia em que área. Queria ser advogada, professora, cientista. Só nunca me passou pela cabeça ser médica, nem psicóloga, muito menos pastora ou ser missionária.

Olhando para trás, olho minha própria recente história. Onde ela começa?

A década de 1960 veio e foi embora, e aos catorze anos, tendo experenciado minha primeira perda, a morte do meu avô materno, senti falta, mas o que mais dói foi numa tarde de verão, quando saia de casa para comprar pão, cruzei com ele no caminho, que me olhou, e eu se quer o cumprimentei. Um ano depois foi a vez do meu avô paterno, que nunca conheci, e não senti falta. Lembro que perguntei a minha avó se ela iria vestir luto, e ela respondeu-me que já vivia de luto dele há muito anos.

Como adolescente, sentia-me feia, branca demais, tímida e insegura, não conseguia falar direito com as pessoas, e preferia o silêncio. E, era de uma ingenuidade que beirava a ignorância. De certa forma, isto foi ruim sim, porque não tive malícia para ver quando alguns indivíduos e até mesmo familiares queriam me desvalorizar. Em fim, cresci e continuei vivendo. Puxa! eu era inteligente e bonita; só não sabia disso! E também ninguém nunca disse que eu era!

Surge a década de 1970. Tudo era novidade. Estava descobrindo o mundo, bem real, nada romântico, apesar de ser romântica. Sonhava em namorar alguém bonito, alto, louro e de olhos claros, mas só lembrava isso no dia dos namorados, quando me sentia diferente das outras moças que faziam planos e compravam, dentro de suas possibilidades, o presente do namorado.

Apaixonei-me várias vezes. A primeira paixão aconteceu aos onze anos, e isso durou muito tempo. Depois foi a vez do professor de inglês, que todos diziam que ele gay, mas ele tinha namorada na escola. Depois, foi alguém da minha congregação e depois outros. Contudo, nunca, nenhum deles chegou perto de mim para me dar um abraço, o mais simples que fosse. O outro foi um colega de trabalho, que correspondia as minhas expectativas, mas como ele não tinha os mesmos ideais que eu, não dei chance dele chegar perto. Foi uma pena! Eu queria ter namorado com ele. Ele era até engraçado.

Lembro do seu rosto no dia em fui entregar o meu convite de casamento. Ele me perguntou: “Anna, tu vais casar?” Nossa, aquilo doeu! Se ele tivesse dito que gostava de mim, três anos antes, talvez tivesse feito diferença. Novamente a partícula “se”. Se... poderia, faria, estaria, diria...” Algo que nunca saberei, porque “se” não leva ninguém a lugar algum. O tempo passou e o encontrei há uns cinco anos; não estava diferente, mas dessa vez, não senti nada, a não ser, o reencontro de um ex-colega de trabalho. Curioso! Não era para ser.

O último. Eu casei com ele. Disse a ele que não adiantava, ele ia casar comigo. E com ele construímos uma família e estamos juntos até hoje. Quanto tempo? Não digo!

Em dado momento da minha existência, entrei num ônibus a procura de um lugar para estar com os demais do mundo, na busca por um lugar ao sol e fui percorrendo um caminho, que não planejei, mas que foi sendo construído. E nessa trajetória, fui mudando de linha e percorrendo horas de estudo, e caminhada. Aonde cheguei? Ainda não sei ao certo. Mas, continuo no ônibus, trocando de linha e, espero chegar a um destino onde tenha,

finalmente, alcançado o ponto final.

Perdi muito tempo fantasiando, e sem um sonho objetivo. O resultado foi que quase acordo tarde e o que me restaria era lamentar o tempo perdido.

Vim aprender sobre perseguir meus sonhos na década de 1990 quando entramos numa empresa de network marketing, que foi uma ilusão, onde a tônica era trabalhar durante cinco anos e enriquecer. Gastei tanto dinheiro com fitas, livros e produtos, além de tempo, muito tempo frequentando palestras, convenções e seminários. Se tivesse colocado na poupança teria feito melhor proveito. Porém, aprendi também que não se transfere para os outros a responsabilidade de conseguir chegar a qualquer lugar sem esforço, qualidade, e perseverança. Acho que foi isso que me deu motivação para prosseguir quando este sonho acabou. Não enriqueci, mas sobrevivi.

Bem, em meio a tudo isto, nossos filhos foram crescendo e estudando, e continuam estudando, e estão constituindo suas famílias.

Meu sonho? Ah, meu sonho! Posso dizer que hoje sei a diferença entre sonho e fantasia. Contudo, aprendi que sonhar e agir nem sempre é certeza que concretização. Alguém dizia que devíamos sonhar em direção as estrelas, pois se errássemos o alvo, atingiríamos a lua. Sonhar alto!

Li livros e mais livros de autoajuda do tipo “pés no chão e cabeça nas estrelas”, “vida de rinoceronte”, etc., este último uma inutilidade. Li pelo menos uns trinta livros.

E, hoje! Continuo sonhando, fantasiando. Meu sonho é mais racional. Não é tão distante, nem ficção. Há possibilidades sim, de conseguir alcançá-los. Mas, continuo fantasiando com os pés no chão. Desejando, mas com uma mente alerta, para não cair no ridículo.

Hoje, sei o valor que uma amizade verdadeira faz toda a diferença, e que não está limitada a idade. Também aprendi que amizade não tem sexo, nem idade. Podemos ter amigos de várias idades, e isto é bom, porque aprendemos a transitar, sem que o abismo da diferença de idade seja um empecilho para a aproximação e a troca de experiências.

Aprendo com os amigos jovens, que transmitem jovialidade, alegria e prazer nas coisas mais simples. Espero poder ser aquela que, o jovem ao aproximar-se de mim, possa passar experiência e o prazer que o aprendizado trás.

Um dia desses, um jovem percebendo a tristeza que me acompanhava pela possível perda de um ente querido, se aproximou e teve a sensibilidade de me abraçar, num abraço tão apertado e gostoso que alguém pode dar. Que abraço bom; seu efeito foi de um bálsamo. Que delicia, que paz!

Hoje não tenho medo de envelhecer. Estou envelhecendo. Esta é uma realidade que se aproxima dia a dia. Contudo, se alguém pudesse invadir a minha mente, veria uma jovem de mais de cinquenta anos em ebulição, ansiosa por aprender, por crescer e por partilhar.

Como ser humano, que esta envelhecendo, espero não ser invisível no futuro, como são os idosos dessa geração do início dos anos 2010. Espero ter o privilégio de chegar aos 80 com uma cabeça fresca, mas com um corpo que não me deixe prostrada. E, ao mesmo tempo, pedindo a Deus sobriedade, serenidade, sabedoria, saúde para poder viver estes futuros últimos anos de vida. E, quando chegar a hora de partir para a eternidade, espero que seja antes que venha a tornar-me um peso; de ser uma dor para além de perda, que é uma perda que vem do cuidar e do sofrer.

Continuo sonhando os sonhos mais fantásticos e, não ouso contá-los a ninguém. Alguns eu sei que os conquistarei. Outros, tenho a certeza de nunca os terei. Mas, como é bom sonhar!

Teofila
Enviado por Teofila em 09/09/2012
Código do texto: T3873953
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