Carta em desconhecido

“Pus-me a ser... não fui. Pus-me a dizer... silêncio.” Trago é pelo aguaceiro das chuvas; pelo inodoro que me atormenta as narinas; pela força capilar de árvores em ventania... Tenho o direito de me rir quando pede o diafragma; e de me enraivecer, quando tropeço no mais fino e seco graveto da estrada de pedras. Uma menina tímida e desconfiada choraria, como uma menina tímida e desconfiada em seu balanço costuma chorar após uma aterrissagem mal calculada. Uma menina tão franzina e cercada de instintos... Tão maciça e tão bem aventurada com seu velho olhar de uma velha guilhotina. Seria ela como uma chama que tudo vê e consome? Ou como o ar que, quando respirado, tudo sente em profundidade?

Quanto mais defensiva me encontro, mais sinto que perco minhas entranhas para uma cruz tão amolada e cortante quanto o fio de uma navalha. Às vezes, tudo está bem e coisas saudáveis acontecem. Às vezes, destas mesmas coisas saudáveis saem males jamais imaginados inicialmente. Deste modo são regidas as razões que, por sua vez, alia-se a tais má formações emocionais provindas do fruto das árvores. Outrora, fui circunstanciada. Tive um sonho. Fugia de seus lábios a voz, estava sempre indisposta sua mais profunda sensibilidade e quase nunca ela aparecia. Mesmo em situações tocantes via-se o quanto reações frias ou mesmo pacíficas tomava sua atenção e tornavas como um símbolo de dinamismo em meio a ocasiões dramáticas...

Sim, sentes a terra invocar-te. Feito aquele doce e meigo beijo do ser amado que implora sempre um além. Tuas roupas são comidas, bem como tua carne e unhas. E nem se quer uma gota de teu sangue é exigida, nem ao menos um gemer de dor. E o único frescor apaziguado resulta desta tua morte, e é apenas pela ciência de não carregar consigo, em teu caixão, o próprio homicida...

Já não tenho desespero... Minha postulante calma responde por si só. Apenas um queima e um frio estomacal me sobem a goela, e longe está minha dócil e frescurenta não melancolia. Este meu abraço cativante provem de sua saga robótica em solidarizar-se. Ah! O que faço com você? Vi-te sem que percebesse os olhos de minha faminta víscera. Era com aspecto curioso que a sombra de nossos corpos nos fitavam as horas. Estavas ao canto... À frente da pouca amplitude vagante. Então, aprendera a silenciar comportadamente. E eu agora, em vida, nunca acreditei que seria diferente após a morte. Ainda que de meus restos mortais se apossem minúsculos e contraditórios germes. Pois bem como em espírito, meu seio fede a humanismo e a sua latente poesia hipócrita...

CRISTINA, Lidiane. Assú, 02 de Dezembro de 2009