Estávamos em férias ... continuação 6a. carta "Os primeiros dias no hospital... meu coração me dizia o quanto era grave"
Assim que eles chegaram, pude ir na cidade vizinha ver meu marido e meu outro filho, que estavam há dias cuidados por um cunhado que foi direto para Candido Rondon/PR.
Meu “adotadinho”, que já estava em companhia dos seus pais, passava bem depois dos procedimentos, agora era dar tempo ao tempo para os ossos colarem. Ainda ia precisar de cirurgia e fisioterapia. Graças ao bom Deus ele estava bem!
Meu desejo era levar todos para Toledo, pois eu não daria conta de estar em dois lugares ao mesmo tempo para cuidar e acompanhar. Meu filho mais velho estava preocupado com o pai, então me pediu para levar os exames para ouvir opinião de médicos especializados em mãos, ombros e principalmente neurocirurgião.
Tinha sido submetido a uma cirurgia ortopédica na mão e braço esquerdos. Estava bem, levantando da cama, tomando banho no banheiro. A cirurgia foi bem sucedida. O ortopedista tinha feito em excelente trabalho, elogiado posteriormente por outros profissionais. A mão e braço esquerdos do meu marido estavam normais, com movimento. Também agora somente o tempo para esperar.
Fomos surpreendidos por não ter tomografia do crânio do meu marido e após solicitação nossa o exame foi providenciado. Quando o ortopedista avaliou o exame imediatamente suspendeu a liberação para o outro hospital, pois estava com a cervical comprometida, com deslocamento lateral perigoso.
Enfim, assumi o risco de remover meu marido para Toledo para ser acompanhado por um neurocirurgião de coluna. Meu marido corria risco de ter mais deslocamentos e ter seqüelas de tetraplegia, paraplegia etc... Necessitava de cirurgia para fixar as cervicais comprometidas. Abençoado doutor, um jovem, que nos orientou e fez o procedimento cirúrgico com sucesso e competência. Meu marido estava com a coluna alinhada, protegida, podendo ir e vir com segurança.
Meu adotadinho estava bem, também fez a cirurgia com o mesmo ortopedista. Tivemos que deixá-lo em companhia dos seus pais na cidade de Candido Rondon/PR, pois, graças a Deus, o hospital tinha tudo que ele precisava. Logo receberia alta e voltaria para Cuiabá.
Preciso falar dos seus pais, nossos vizinhos, nossos amigos... moramos na mesma rua acho que há quase 20 anos. Recebemos tanto carinho deles, em nenhum momento houve qualquer demonstração de sentimento ruim em relação ao acidente, do tipo culpa, raiva e sentimentos parecidos. Ficaram juntos conosco. Sofrendo juntos, orando juntos. De certa forma, o Róger também era um adotadinho deles. Eles o chamam de gurizão.
Nossos filhos se conhecem desde a fase de brincar na rua, que ainda era sem asfalto. Da bolinha de gude, festas de 15 anos... jogos de futebol ... caminhadas ecológicas, baladas, pescarias ... e ... são amigos até hoje. Eu me lembro que o Róger fez questão que ele fosse nessa viagem conosco. As namoradas também foram, e graças a Deus uma voltou com a família e a outra de avião.
E na volta tudo isso aconteceu.
A primeira semana se passou em Toledo. Meu filho estava muito mal, quando passava um dia sem febre a gente comemorava. Quando a febre persistia, a gente confiava. Quando a pupila não reagia, a gente confiava. Meu coração de mãe ficou apertado. Eu me senti angustiada. Nesse dia a comida não descia. Acordei cedinho e fui para o hospital. Ninguém me impediu de entrar. Sentei-me em frente da UTI e orei na capelinha.
De repente vi o medico dele entrar na UTI. Pensei, nossa! Que bom que ele tá aqui, logo vou ter noticias da noite. Mas, quando o médico saiu e me viu, fiz uma leitura do semblante triste e ai voltou a angustia que tinha sentido desde o dia anterior. Ele se aproximou e me disse: Róger tá muito mal, estamos saindo de ambulância para fazer uma tomografia. Talvez seja necessário uma nova cirurgia. Meus Deus!!!!! Novamente entrou em ação meu clamor. Era só o que eu sabia fazer. Clamei por Nossa Senhora, Implorei que o cobrisse com seu manto. Com as mãos estendidas sobre ele, orei durante todo o procedimento e assim fiquei olhando a ambulância manobrar, e seguir seu destino. Continuei orando até minha família ir chegando.
E ai teve que fazer cirurgia urgente para retirar parte dos ossos do crânio para descomprimir o cérebro. E a gente orava e confiava.
Perto dali havia missa todos os dias. Era a coisa mais linda de se ver. Sentávamos alinhados numa única fileira e participávamos com muita fé. No hospital tinha capela e a gente rezava, silenciosos, um a um.
Meu marido teve a companhia de um irmão para dormir com ele no hospital, antes e apos a cirurgia. Descansava um pouco a tarde no hotel e ia para o hospital a noite dormir e rezar. Do quarto do meu marido era possível ver a janela da UTI que o Roger estava. Assim, esse tio passava horas com a mao erguida sobre o leito do sobrinho, orando.
E aos poucos uns voltaram para seus afazeres. Outros chegavam. E a providência divina firme. Durante todo esse período em Toledo e depois em SP, tivemos sempre companhia da família e visita de amigos. Eles se organizavam para fazer um rodízio de fé, de apoio, de amor.
Enfim chegou a hora de decidir transferir o Róger para um hospital de alta complexidade. Como foi difícil tomar essa decisão. Nessa hora, meus dois filhos, sobrinhos e adotadinhos assumiram a tarefa de analisar tudo, prós e contras... Um dos adotadinhos era recém formado em medicina que mediava as trocas de informações entre a equipe da UTI e a equipe de neuros em SP que iriam assumir o caso. Enfim, a decisão parecia segura e acertada. Mas, deixava um frio na barriga. Enfim, decidimos: v a m o s.... com fé em Deus e pé na tábua.
Mesmo com autorização de remoção em UTI AÉREA pelo seguro e demais providências do plano de saúde, a equipe médica da UTI somente liberou quando o quadro clínico do Róger foi considerado estável. Grave, mas estável.
Os meninos providenciaram tudo, relatórios de médicos encaminhados para nova equipe, envio de laudos, exames, etc. Tudo encaminhado, com a graça de Deus.
Chegou a hora de levar o Roger para SP. Meu filho mais velho, abençoado, acompanhou o irmão caçula. E foram para SP. A viagem foi tensa, como eles falam.
Chegou a hora de irmos também para SP.
Despedimo-nos dos novos amigos de Toledo e fomos de carona para o aeroporto em Cascavel PR. Carona??
Sim, carona. A providência divina, lembra? Apareceu um senhor para visitar meu marido no hospital e conversa vai, conversa vem, ele se prontificou levar-nos para Cascavel, pois tinha alguma coisa para resolver la. Era um aposentado da mesma empresa que meu marido trabalhava.
E assim fomos, depois de mais ou menos duas semanas em Toledo, acompanhados do nosso abençoado filho do meio, com poucas sacolas, levando o pai de cabelo raspado, colar cervical no pescoço, ataduras e gesso, ferro no braço esquerdo, placas de titânio na cervical, ainda fragilizado pelas cirurgias, e por tudo que estava acontecendo, meu marido parecia distante e confuso.
Tudo aconteceu nesses poucos dias.