À CIGANINHA DO PERFIL
Ah, se você, tão antiga ciganinha do perfil, tivesse seguido algum dos múltiplos destinos que poderiam ter sido seus... mas, você acabou sendo escolhida por este destino... que a entorpeceu... que a tragou... a ver todos os dias o sol, a lua, as estrelas nascerem e se porem pelo lado de fora... enquanto o silêncio sempre,a duas, dia após dia, mês após mês, ano após ano, sempre, pelo lado de dentro da janela.
Ah, se a antiga ciganinha pudesse ter adivinhado... essa ciganinha em cujos olhos já vejo alguma saudade... já vejo algo da Saudade que a marcaria, que a determinaria para sempre... Afinal, quem não consegue ter a Vontade necessária para escolher, acaba, invariavelmente, por ser escolhido e aí, é aceitar o destino que lhe foi determinado sem a sua escolha, ou melhor, com a sua omissão, com sua passividade, com a nenhuma sua rebelião.
A ciganinha, quando alguns anos mais velha, deveria ter pulado a janela e fugido, para muito longe... para muito longe... Como ela nasceu com honra, acabaria por ter voltado, para consumar seu destino, este de agora, mas, antes de voltar, teria se construído e à sua vida e, nesse caso, voltar teria sido outra coisa, muito, muitíssimo diversa desta aqui presente.
Enfim, ciganinha, quede-se aí, imóvel, de certa forma imortal... enquanto esta aqui, que vos tornastes ... precisa aceitar o que lhe coube, por honra, por dever, mas também por covardia e por auto omissão. Isto que esta vos escreve, ciganinha, não é bem uma reclamação: é um lamento, um pedido a vós, ciganinha, um imenso pedido de perdão.
Ainda na manhã de 26 de agosto de 2012.