Carta de Feliz Aniversário

Francisca

Poá, 20 de agosto de 2012.

Como vai minha menina? Tudo bom? Espero que esteja dormindo o sono dos justos, enquanto lhe desejo um feliz aniversário.

Quantas primaveras passamos juntos? (apesar de não estarmos na primavera). Foram tantas... Acho que uma vida... que não volta mais. E eu sempre, nesta data, procurava lhe dar o melhor de mim para que você ficasse feliz, sabendo que era amada e dileta.

Lembro-me de quando não tinha dinheiro, por causa do meu desemprego. Ficava muito triste porque me sentia inútil e porque queria presenteá-la com alguma coisa; e eu dizia "mas com o que se não tenho um puto?". Não adiantava as queixas que fazia para mim mesmo. Os meus choros internos não resolviam; e a realidade era que a minha amiga não estava tendo um presente palpável de minha parte. Queria que se lembrasse de mim ou ao menos do dia ao pegar a xícara, livro, vidro de perfume, joia ou qualquer outro objeto que se possa ser guardado nos lugares secretos de um guarda-roupas, para uma boa recordação.

Hoje, cá estou eu varando a madrugada feito um idiota pensando no sapato escarpam que lhe dei e que você ficou feliz; que ao menos poderia ter ligado para lhe desejar um feliz aniversário, demonstrando assim que não me esqueci, mas meu orgulho não me deixa já que você preferiu as amigas e um bolo fuleiro no shopping, enquanto me derretia em casa por me tornar a sua segunda alternativa de felicidade e por não me dar os parabéns em meu último aniverário. O que lembro dele é uma traição... Aí prefiro deixar de lado esses pensamentos pejorativos, porque a verdade é que agora tenho dinheiro para comprar um bom presente e não o faço por causa do seu próprio desdem. Quem lá merece ter esta palavra em seu portefólio de anotações psíquicas? Ninguém! E eu tenho! Lacera-me sempre que vem em minha memória. Será que isso aumenta meu léxico? Grande coisa... Quem lá se importa com tal infelicidade?

E você dormindo toda desajeitada na cama, nosso filho do outro roncando feito um avô... Ah! Eu me lembro muito bem... Eu olhando para os dois, tirando fotos para eternizar o momento; eu pegando o pequeno no colo e pondo-o em sua cama; eu sorrindo de felicidade por tê-los ao meu lado, tendo a segurança que hoje não tenho...

Não me esqueci de nada! Talvez seja este o motivo da minha dor... Receba ao menos a minha pena como de costume, o xamego do meu coração, minha amizade fiel e o amor que brota de mim mesmo a distância e sem a água que de deveria vir de sua alma.

Feliz aniversário.

3h48

Cairo Pereira
Enviado por Cairo Pereira em 20/08/2012
Reeditado em 20/08/2012
Código do texto: T3839228
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