A despedida da amante
Meu Carlos Oliveira Braga Souto,
Mais uma madrugada gélida, tétrica e insólita me ataca. Com o gosto dos amantes abandonados sobrevivo a esta solidão.
Você não apareceu. De fato, por ser sábado, cumpriu seu cronograma familiar e religioso, diria até intelectual, visto que os livros sempre o acompanham para todo lugar. Você é absurdamente inteligente, articulado, de uma calma inigualável, é de uma grandiosidade tão excedente que é praticamente um monstro. Você possui diversos predicativos ou predicados, mas não é meu.
Percebe, agora, que sempre tive razão ? Percebe que nós tínhamos prazo de validade já postos em nossos corpos-embalagens ?
A sua ausência sempre foi uma constante em minha vida. Percebe também que foi por causa de tê-lo sempre a escorregar dos meus dedos que fiz o que fiz? Percebe???
Não voltaremos. No meu leito existe outro que verdadeiramente me ama e, apesar de tal sentimento não me tomar, eu preciso ir em frente, preciso experimentar, ao menos, as curvaturas do meu quadril ou o meu serpentear. Quem sabe, se no futuro, eu e ele, poderemos ser tão transcendentes como nós?
Volte, aliás, você já voltou para seu mundo´´ tudo no lugar`` e eu estou com o meu desarrumado, mas, logo tudo será passado. E eu devo entender que você foi mais um com o qual tentei ser verdadeira, ser real. Mas, o amor não me faz surpresas agradáveis e me dá oportunidades apenas de pedaços.
Seja feliz! Você é maravilhoso sim. Sempre será! Alguém adorável !
Certamente, ela tem tudo do qual você precisa e isso, deixa-me em um paradoxo absurdo, pois quereria ser esta que o tem e, ao mesmo tempo, prefiro sair com abnegação. Você bem sabe que sempre prefiro calar-me, distanciar-me a fazer sofrer qualquer pessoa, principalmente, ela, que de forma alguma entenderia que um dia eu fui sua amiga e, hoje, sua rival.
Saiba que, se eu não amei você por inteiro foi pelo simples fato de ter você em pedaços.
Vá.
Isadora Mattos.