A última carta
Eu quis te escrever, pus as folhas sobre a mesa, peguei aquela caneta colorida que te escrevi da última vez, dobrei a folha da mesma maneira, peguei um envelope do mesmo modelo, pus seu endereço nele, e só depois comecei a escrever.
Escrevi teu nome no meio da folha, como havia posto na última carta que lhe enviei, lembra? Você a guardou, ou a rasgou depois que resolvestes te roubar de mim? Lembra de quando lhe escrevi pela primeira vez? Eu lembro, lembro de cada ponto, cada vírgula, cada palavra escrita. Você leu e releu as cartas que te enviei? Me sentiu mais perto de ti? Você conseguiu ler as entrelinhas?
Ainda lembro das vezes que disseste me amar, de todos os ‘eu te amo’, das horas que passamos ao telefone, da sua voz manhosa do outro lado da linha, da sua risada doce, das vezes que me interrompia só para dizer que me amava. Lembra, quando disseste que queria me roubar? E das horas que passamos idealizando um futuro só nosso, você lembra? Lembra, discutimos várias vezes, porquê você queria um cachorro e eu um gato.
Lembranças, é tudo que tenho, e elas já não são tão importantes, são sonhos que não serão realizados, você já têm um outro alguém, e eu tenho vontade de pedir a ela para te cuidar, te proteger, mas não tenho o direito de fazer isto.
Eu errei amor, errei em querer te dá o mundo e você por não ter aberto os braços para recebe-lo. Errei por querer-te roubar para mim e você por não me deixar roubar-te.
Fernanda, eu te amo. Nunca precisei de textos ou poesias, para lhe dizer isto, mas você sempre soube, porque nada mudou. Mas, de agora em diante, você trilhará um novo caminho, e desse eu não faço parte. As estradas que percorremos, os rastros que deixamos, estão sendo apagados, existimos em tão poucas palavras, em algumas mensagens enviadas, que já foram apagadas.
Lembra das vezes que lhe falei que você me salvou de todas as maneiras que alguém poderia ser salvo? Então, por quê me deixastes cair novamente no abismo?