DA FELICIDADE
CARTA ABERTA
Ser feliz com os nossos seres amados infelizes? É impossível. Ser feliz sabendo que causamos infelicidade? É impossível. Às vezes, por razões que não temos sequer o direito de explicitar, "ausentamos" da nossa presença imediata determinados seres muito queridos, para preservar outros, (isto é sutil demais, eu o sei, mas, não posso dizê-lo com todas as letras, é um direito que não tenho, porque isso faz parte de um Mistério), e tal ausência também não nos permite ser realmente felizes.
Ser uma pessoa muito amada não é nada fácil, principalmente a quem não se deixa levar pela vaidade, muito menos pelo orgulho de ser amada assim. Ser muito amado é um compromisso seriíssimo e, dolorosamente, causador, amiúde, de sofrimentos para terceiros... para quartos... Muitas vezes penso que teria sido muito melhor se eu não tivesse sido amada nunca, ao mesmo tempo em que agradeço e me curvo, com toda humildade, diante do fato de ter sido e de ser amada. Em verdade eu, durante muitos anos, duvidei de que tivesse méritos, como mulher, para ser amada e isso, essa insegurança,essa auto depreciação acabou por conduzir a enganos causadores de graves equívocos e, mesmo, de males irreparáveis.
Tive que renunciar ao amor, à vivência plena do amor, algumas vezes, para dizer com mais clareza, em duas Grandes Vezes, uma delas, Marca Dolorosa para uma Vida Inteira... da outra... impossível falar; com não apenas dor para mim (prouvera houvesse sido só com dor para mim). Lutei com o veneno da Dor da Renúncia ao Amor, por Amor, por respeito e por compreensão também do sofrimento causado por mim às minhas rivais, por mim que tenho um respeito e um afeto natural pelas mulheres, de quem têm me vindo grande parte da força que necessito para sobreviver-me e para ajudar minha mãe a sobreviver; com isto não quero dizer não tenha recebido força também dos amigos homens, mas, via de regra, força de natureza diversa da que as mulheres amigas trocam entre si, força nem menor nem maior: a força vinda dos homens assume outras naturezas e feitios, tendo a mesma importância da força que vêm das mulheres, embora diversas uma da outra).
Compreendo que minha Solidão é fruto do privilégio de ter sido e de ser muito amada e, desse paradoxo, não posso responsabilizar ninguém, bem como não quero responsabilizar-me a mim. Nunca fui capaz de flertar (êta, termo antigo!) nem de fazer os jogos de sedução que marcam o início de muitas relações amorosas. Também nunca marquei a vida minha e a do único homem com quem vivi durante anos e anos... com crises de ciúme, ciúme que tenho também, como todo mundo, mas ao qual nunca permiti virasse ele, meu próprio ciúme, o Inferno da minha vida nem da vida de ninguém.
Dei a esse depoimento(???) o nome DA FELICIDADE. Talvez me tenha afastado demais da proposta que o título sugere, talvez não.
É que estou escrevendo "de primeira", sem me preocupar com o formal do que escrevo. Isto é apenas um fundo desabafo, porque tenho o coração demasiadamente envolvido com o sofrimento de seres amados e não estou conseguindo valer a todos, ao mesmo tempo, neste momento, também porque estou vivendo um processo individual pleno de perplexidades e de dor de múltiplas veredas, e também porque preciso orar... orar... orar... por um determinado ser, em crise fundíssima, de natureza abissal, que depende muitíssimo da minha Fidelidade Maior.
Ah, perdoem-me alguns dos meus seres amados, por lhes parecer estar distante, por não lhes dar o necessário indispensável do meu apoio, neste tempo de mim. Perdoem-me. A cada um atesto minha fidelidade específica, todas sagradas, atesto que, enquanto todos vocês não estiverem bem, qualquer felicidade que me possa caber estará marcada por travos de dor. Só posso lhes dizer que não os abandonarei jamais. Jamais. Falo de homens amados e de mulheres amadas. A título de esclarecimento : embora respeite, profundamente, a opção sexual de todos e de cada pessoa, fique claro que não sou bissexual rsrsrsrs. Os homens (mais que todos, um determinado homem) têm sido a minha "perdição", assim como minha salvação. Ai...ai...ai... Camilo Castelo Branco. Ai... ai... ai...
Beijos, amigos.
Escrita "de primeira" este texto que nem sei como classificar, terminado neste começo de tarde de 11 de agosto de 2012.