Carta ao meu velho pai (IV)

Ôi pai!

Saudade ...

Hoje, na fila de um banco, ouvi de uma senhora que o próximo domingo será o Dia dos Pais. Estranho – não tinha lembrado, ou melhor, nunca mais lembrei desta data desde a sua partida.

Até tentei transferir a minha “filiação paterna” para tios, sogros e algumas pessoas boas que cruzaram o meu caminho, mas o seu posto continuou intacto. Ninguém conseguiu ocupá-lo com a sua maestria.

Por mim eu deletaria o próximo domingo. Mesmo querendo ser forte, sei que sou uma lâmina lisa e transparente quando penso no senhor. Essa lâmina corta pensamentos e lembranças como forma de proteção no momento que desejo. Imagino que seja normal e, se não for, lamento: sou meio louca mesmo.

O senhor viu que eu fui visitar o lugar que lhe depositaram há mais de 30 anos? Não fui por mim pai, porque aquele lugar me faz mal – não gosto dele e sei que o senhor não está lá. Fui porque a minha irmã pediu-me. Fiquei lá orando e olhando para a sua foto, fixa no seu olhar, pedindo a proteção que ela pediu-me que lhe rogasse. Mas foi difícil – como falei, aquele lugar, prá mim, não existe. Continua existindo sim um homem forte, que está sempre comigo, e com o qual converso quando quero.

Sei que o senhor está nos acompanhando nesta fase difícil, sei o quanto nos ama e nos quer ver felizes. Sei que o senhor está emanando forças para que consigamos passar por tudo isto com firmeza. Mas, acima de tudo, sei que o seu plano é outro e o entendimento também.

Tantas coisas, tantas mudanças repentinas, tantas vontades – tudo misturado num caldeirão muito fundo, difícil de mexer. Situações desagradáveis que o senhor não aceitaria e eu sei, se estivesse aqui, não aconteceriam. Mas a vida por aqui está assim e algum sentido deve ter.

Escrevo hoje porque domingo, como falei, esquecerei.

Presente? O que o senhor quer? Sei! O meu amor! Mas este não é preciso pedir. É eterno, sem fronteiras, sem carne nem osso. É brisa, é lua, é sol, é mar.

De mãos dadas cruzaremos o mundo, as dificuldades, as agonias e os imprevistos.

Nossa história está sendo escrita e não sei se terá fim ...

Beijos, saudades, AMOR!

Rosalva
Enviado por Rosalva em 09/08/2012
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