Lembranças de outra vida....

Era noite...senti-me sozinha e quisera escrever...sentei-me então de fronte a minha escrivaninha onde por tantos anos ficara a minha máquina de escrever, batendo tecla por tecla, arrumando o carrinho, foi tingindo as folhas brancas com meus sentimentos...tão conturbados, confusos...sem nenhuma elucidação....depois de tanto tempo....tantos e tantos anos os meus sentimentos ainda giravam em torno de ti....Cada letra, cada sílaba....impregnadas de dores, de alegrias, de prazeres, de desencontros....as lembranças das fotos que não eram nossas que me teletransportavam pra sua história...aquela que não vivi contigo....mas vivi a margem de ti....sempre a margem de tuas felicidades, de tuas conquistas....Tecla por tecla resolvi narrar nossa breve história aquela que desaconteceu sem saber porquê....pensando que isso pudesse me ajudar a organizar os meus sentimentos...assim como as letras apareciam lado a lado....mas tão rebeldes esses sentimentos...indóceis....nunca quiseram assentar-se na beira do coração....sempre mergulhando de cabeça no recipiente e batendo sempre ao fundo...cada vez mais profundo....pro fundo.....parei de escrever....fiquei alguns minutos olhando a janela, admirando a paisagem nova que se formava na escuridão da madrugada....distraí-me pensando no teu sorriso, sentindo o teu abraço....voltei-me novamente pras teclas da máquina....resolvi narrar nosso encontro, nosso beijo, o primeiro...o segundo....o terceiro....no meio dos laranjais.....entre as ruas da cidade....A madrugada alta não alcançava o sono...nem os sonhos que ficavam no papel....escrevia....tec...tec....tec....sem apagar nenhuma letra...sem voltar atrás em nenhuma palavra....Sem perceber tua presença adentrara o meu pequeno quartinho de livros....estavas ali a me fitar...a ler meus pensamentos....tu foste sempre o meu primeiro leitor....que saudades que eu tinha de quando tu me lias.....que saudades que eu tinha enquanto escrevia....senti teu cheiro....teu toque de pele...único...mesmo depois de tantos anos.....Tua presença ali era tão forte que num segundo de distração a fitar a folha meio branca meio pintada das letras adormeci.....e sonhei...ou estive contigo quem pode saber? No meu sonho me sorrias...me abraçavas e me dizia....que belo conto escreves agora parte minha, não anseie por estar aqui comigo, estou contigo onde estiveres...tua presença é minha presença...tua ausência minha saudade.....teu amor é meu....e o meu é teu também não importa o quanto andes...o quanto o prometas a outro...ou eu assim o faça....diversos caminhos nos levarão ao encontro um do outro...aqui te espero...porque assim é o amor verdadeiro...Num beijo doce de primeiro encontro acordei do sonho...não sabia se me invadia a tristeza, a saudade, ou outro sentimento qualquer....voltei à minha pequenina máquina, li e reli nossa história mas não achei formas de terminá-la...não encontrei finais...nenhum final seria bom...nenhum deles seria justo com tão bela história...retirei da máquina as folhas e guardei-as em rico baú, onde estariam guardadas fotos descoloridas e objetos esquecidos e empoeirados....onde estariam guardadas as mais doces e ternas lembranças de minha vida........fechei as portas do quartinho...voltei-me a cama e adormeci...deixei ao final da última linha reticências para assim quem sabe um dia ainda em vida poder continuar esta carta e dar-lhe o final merecido

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Alma Partida
Enviado por Alma Partida em 06/08/2012
Reeditado em 29/04/2014
Código do texto: T3817259
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