CARTA À MUSA (O sorriso)
Estou - e louvo a Deus por este fato - diante de teu sorriso. O de sempre, o mesmo de quando meus olhos te viram pela primeira vez. O nunca suficientemente contemplado sorriso sereno, espontâneo, honesto por se fazer expressão reveladora das grandes virtudes éticas e intelectuais que te habitam as instâncias mais interiores de teu ser. Sem contar sobre a afetividade que em ti, por vezes alcança o limite do exagero (se é que se pode falar em extremos quando o assunto em pauta é afeto). Sorriso terno, que não dá margem, a quem te desconhece a, sequer bem de longe, supor que te fazes fera, ou ferro incandescente em brasa nos raros momentos de ira. Ira santa, impulsionada por revolta frente a alguma injustiça desferida contra ti ou terceira pessoa.
Sorriso, o teu, capaz de incitar desejos aqui não mencionados por se acomodarem nos compartimentos invioláveis das nossas mais íntimas esferas. Mas que, mesmo não explicitados, são por todos muito bem compreendidos.
Faz algum tempo, não muito, que me revelastes esse sorriso pela primeira vez. De minha parte, rendição à primeira vista, ou à primeira contemplação do sorriso. É! Porque em se tratando de deusas não basta ver, impõem-se a contemplação e... a reverência. Reverência prazerosa e por opção, que fique bem claro.
Mas, em que pese o estreito espaço de tempo decorrido desde a primeira contemplação de teu sorriso e de tudo quanto ele encerra, já estou a ele servilmente entregue a ponto de não compreender como foi possível viver até então sem sua presença.
Bom, por hoje é só.