Carta para dentro de mim. (EC)
Belém, 05 de agosto de 2012
Caríssima Roseane,
Como tu estás? Em quase 50 anos, já sabes quem tu és? Ou pelo menos já se aproximou milímetros que seria de fato, tu?
Decidi te escrever essa carta, movida pela forte vontade de te saber quem é. Quando li, o tema do EC desta semana, intitulado Geografia do Medo, sei, tu me retornastes uma mensagem de sensação de desconforto, eu pude claramente perceber.
Olha, eu melhor que ninguém, ou tanto quanto a ti, sei do que passas, do esforço que imprimes para superar sensações que se tornam reais e dolorosas dentro de ti, desde alguns anos para cá. Conheço bem essa tua Geografia.
Sei de cada detalhe, da ansiedade desmedida que te faz comer o universo sem sequer degustar, das intempestivas taquicardias que chegam sem “toc toc”, do nó invisível na garganta, mas que quase rouba o fôlego de tão grande, sei também dos tremores pelo corpo inteiro, do aperto no peito, sem razões aparentes e sei da tristeza instalada nessa cabeçinha e nesse coração.
Eu te acompanho acordada e silenciosamente, nas noites em que dormir é quase um delírio, um sonho distante, e nas tardes que teus olhos se fecham sem que tu queiras, no meio de uma tarefa do trabalho.
Trocas de tudo né? Noite por dia, alegrias por tristezas, paz por angústias, calma por aflições, risos por lágrimas, palavras por silêncios, companhias por isolamento...
Escrevo para te acalentar a alma em desalinho (porque sei de ti um pouquinho), te dizer que eu, estou aqui, contigo, e vou sempre partilhar desses teus digamos desalentos, e te acompanharei nessa luta para deixares tudo isso para trás, e voltar aos velhos e bons tempos.
Uma coisa é certa, quando estiveres finalmente fora deste ciclo, digamos assim, restará em ti, alguém melhor, que se conhece mais, que precisou se aprofundar muito, na essência da palavra para emergir limpa.
Calma, essa é a palavra de ordem agora, não te aflija diante do tema do EC, das palavras, Geografia do Medo, que sei, estão te dando, neste exato momento, gasturas e aflição.
Sei de tuas dificuldades de entender teus próprios medos e angústias, que aparentemente não tem uma causa aparente. Compreendo que é uma costura cheia de complexidades, montar esse mapa, esse quebra-cabeça que nos fará visualizar com clareza tais razões. E sei também que se isso acaso não for possível, nos cabe construir uma atmosfera nova a partir de toda essa história.
Não tenha medo.
Se bem que sei, essa palavrinha tão pequena ronda teus dias a muito...
Devagar estamos enfrentando.
Aquieta teu coração!
Respira vai...
Isso: respirando compassadamente...
Isso,
Fecha os olhos,
Respira...
Inspira...
Enche o peito de ar...
Solta lentamente...
...
...
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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Geografia do Medo
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