Soldado
Querida Eduarda,
Nem sei de que modo consigo escrever esta carta a ti. As minhas forças foram-se com os esforços do dia: manter-me vivo, ainda que mantando pessoas cujas histórias eu jamais saberei e seus entes jamais saberão o fim; segurar a metralhadora causa muita dor; manter-se acordado, sempre a espeteira e doloroso; o sono enfraquece a mente e os olhos pesam.
Mas eu não poderia deixar de lhe escrever, não quando sei que esta carta pode ser nosso último diálogo, melhor dizendo, meu último monólogo! Um inferno! A guerra é um inferno. Chegamos aqui pensando em nossos concidadãos, em ser um heroi da pátria; pensamos em ajudar nosso país e voltar ao nosso lar condecorados e rever nossos amores, os quais encher-se-ão de amor, alegria e orgulho por nós. Entretanto, quando aqui chegamos só pensamos numa coisa: sobreviver. Sobreviver a toda essa miséria a qual somos expostos: às mortes; carnitinas; sofrimentos e lágrimas.
Não, não vale a pena a guerra. Nada disso faz sentido quando se faz parte de uma guerra cuja causa vai-se embora com o vento e fica somente o companheirismo- nossa batalha diária está em salvarmo-nos uns aos outros. eis nosso alvo!
Só se compreende a noção de Paz quando a Guerra se revela para você. Ninguém sabe realmente o que é o valor da vidas e dos conceitos antes de presenciar vidas sendo ceifadas em atacado, sem ao menos haver direito a uma derradeira oração ao (s) deus (es) que se crê.
Ferido na mão, cabeça e costela, escrevo esta carta com muito peso e pesar. Não tenho muito tempo e tenho muito a dizer. Portanto, finalizo esta carta dizendo que nunca, meu amor, nunca deixe de crer na vida- quando me refiro à vida, penso tanto no corpo quanto na mente! Permanecer vivo é que resta da vida. Ainda digo para você que cuide de nossos filhos, pois não sei quando voltarei, nem sei ao menos se voltarei, essa é a cruel verdade. Eu te amo!
Atenciosamente, Chirs Edward Mclance.