Do aluno para a Professora

Senhora Professora

Curiosa e aleatoriamente pus as mãos no relatório de final de ano, aquele escrito lá no primeiro ano do ensino médio. Talvez por ter tempo livre, talvez por um sentimento de nostalgia, talvez por simples necessidade de reaprender, me dispus a reler o trabalho exaustivo e enriquecedor que registrou meu primeiro ano letivo pós fundamental.

Tudo começou com a pergunta "o que é Gramática?", e de respostas decoradas de livros foi-se desenvolvendo o espectro da verdadeira resposta, uma busca através de uma estrada costeada por textos formais, ora infantis e expontâneos ora técnicos e até mesmo de duvidosa autoria. Fui capaz, por talento da professora, compreender que a resposta não era definitiva, era abrangente, maior que a própria pergunta. O importante é comunicar.

O que é comunicar? Eu busquei comunicar através da clareza, comunicar para quem quisesse comunicação, e me baseio nesse critério tão fortemente que procuro aperfeiçoar meu texto através do preceito de que a comunicação vem do falante. Quem cria a língua senão o que a utiliza como ferramenta, senão o tal sujeito que compra presunto e pede trezentas gramas? O meu escrito tem que ser maior que a Gramática normativa, aquela que diz que o certo é trezentos gramas.

Mas professora deve lembrar-se que, apesar do ideal, ainda assim corrigia erros gramaticais, algo que sinceramente eu demorei a entender a razão. As regras que a Gramática trás em sua composição visam unicamente formatar o texto escrito a um modelo compreensivel pelos falantes, e dela devem sim ser aprendidas as regras, mas com um olhar na idéia de comunicar acima de escrever certo. Gramática como ferramenta da escrita, não como regente da escrita.

- Um parágrafo inteiro para mostrar que compreendi a idéia que passou, a alguns anos atrás, tentando construir na cabeça de cada um dos alunos da tua classe. -

É curiosa a evolução que eu tive no ano dissecado pelo relatório final: não evoluí exatamente no sentido da formatação de texto, sendo possivel notar erros dessa espécie nos últimos textos escritos, talvez lá por novembro, mas evoluí na ideia da clareza e da fluidez. Descrevi no relatório essa sensação de trabalho cumprido, e ao final da leitura que fiz hoje, aproximadamente meia década depois, cheguei a mesma sensação que experimentei ao fim daquele ano letivo.

Sobre a atualidade, professora, busco uma forma de comunicar ainda mais abrangente do que apenas escrever de forma clara. Busco escrever artisticamente, fundir a clareza com a arte, e assim atingir ainda mais profundamente o leitor. A arte alcança na mente pontos que a escrita comum é incapaz.

Usar sempre a imaginação, por que nela residem as inovações.

Espero que esta leitura tenha sido importante pra você.

27 de julho de 2012

Bruno Geraldi