Carta para Eglê Santos Machado (tréplica)
Itabuna, 26 de maio de 2011
Querida amiga Eglê,
Recebi, hoje, sua amável carta e quero, a priori, lhe agradecer por ter tido a gentileza de responder a minha carta publicada, ontem, no “Saber - Literário”, embora tenha “pegado pesado” comigo quando diz: “Acho meu caro amigo que terás de escolher entre ser cristão e ser livre pensador, pois se questionas a Ressurreição...”
Não tenho autoridade teológica para negar a Ressurreição, porém, coloco sob suspeição alguns aspectos da narração bíblica e atribuo às sucessivas traduções da Bíblia até os nossos dias e por ser um assunto que suscita interpretação diversa, prometo-lhe no decorrer desta missiva voltar ao assunto.
Desculpe a minha prolixidade, quando escrevo, um rio caudaloso brota dentro de mim, que a custo, procuro manter o rumo do barco das ideias, como se fosse uma casa fácil de construir, o acabamento é que demanda tempo. Não demoro na construção do texto, mas na hora dos retoques... tiro uma vírgula daqui acrescento outra acolá, mexo nos pontos de exclamação e interrogação, substituo palavras, vejo e revejo as concordâncias, aí o bicho pega!...
Peço-lhe que não transformemos as nossas controvérsias em réplicas e tréplicas à moda de Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro, eu não tenho estofo intelectual para sustentar por muito tempo uma discussão exegética e teológica, os meus parcos conhecimentos denunciariam a minha ignorância, principalmente, no enfrentamento de uma intelectual e religiosa do seu porte.
Sua carta lembrou-me um frei amigo que após ler “O homem nasce para ser feliz?...”, perguntou-me reiteradamente o que entendia por Eucaristia, Moral e outras coisas... Não lhe respondi. Ele tem jeito de mestre-escola e usa muito a maiêutica socrática, não sei se deliberadamente ou como mecanismo de defesa para não cair em contradição.
Não sei se é do conhecimento da egrégia poetisa que Sócrates envenenava o espírito das pessoas com perguntas capciosas de tal forma que deixava o seu interlocutor aparvalhado. Não sei se é no livro de Mênon ou de Górgias, que Sócrates pede ao sofista que definisse a virtude e o pobre diabo que já tinha feito mais de mil discursos no Areópago sobre a virtude, rende-se à ignorância de não saber o que é virtude.
Noutro trecho de sua carta, pergunta-me: “Amigo, já ouviste... falar do milagre Lanciano...”, confesso-lhe que “en passant”, porém, um mês atrás, a Dra. Sione Porto, gentilmente, enviou-me um slide Lanciano, aí, pude me aprofundar na história. Aprofundei-me também, faz algum tempo, no Santo Sudário e nas chagas do Padre Pio, que são mistérios de fé, acho essas discussões estéreis...
No ensaio que elaborei: “O homem nasce para ser feliz?...”, recorro ao valor da simbologia para materializar a fé e o valor da oração como único meio de conversar com Deus... A História das Religiões prova o que afirmei nesse ensaio: Jesus Cristo, recolhia-se para orar, assim como Maomé, Moisés, Buda, Lao Tsé, Confúcio, mais recente, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Madre Tereza de Calcutá e a nossa Venerável Irmã Dulce. Porém, a Eucaristia é o símbolo maior da religião católica, a presença de Jesus Cristo no pão e no vinho durante a Consagração: "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança [ou Novo Pacto] no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:19-20, e também Mateus 26;26-29, Marcos 14:22-25, I Coríntios 11:23-26), agora, a fé dá o desfecho da transubstanciação que é tranformação da matéria no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo e acho que estamos afinados neste mister por dogma.
Todavia, ao que parece, não estamos afinados em relação à Ressureição, por um lado Eglê, tu sustentas uma fé sem discussão quando dizes: “Rilvan, amigo, TUDO ISTO É MISTÉRIO DE FÉ”.
Não sou um “pensador” como não sou um escritor, sou um livre ser pensante e um escrevinhador, Deus deu a mim e aos demais seres humanos essas potencialidades, necessário se faz, transformar em atos essas potencialidades, por isto, levantei no ensaio “O homem nasce para ser feliz!...”, o dogma da Ressurreição, não Ressurreição em si, mas a transformação de espírito em matéria corruptível, em corpo físico: “Tocai-Me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos”. Porém, Santo Inácio acrescenta: “Eles tocaram n’Ele e acreditaram. Esta comunhão estreita com a Sua carne e o Seu espírito ajudou-os a enfrentar a morte e a ser mais fortes do que ela. Após a ressurreição, Jesus comeu e bebeu com eles, como um ser de carne, quando Se tinha tornado um só espírito com o Pai. Recordo-vos estas verdades, bem-amados, sabendo que esta é também a vossa profissão de fé.” (Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir Carta à Igreja de Esmirna- Evangelho Cotidiano). Ora, minha amiga, mesmo um ato da Providência, é discutível, é um assunto que dá pano pra manga...
Por que sou cristão? A resposta é a mesma dada por São Pedro: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna”. Além disto, minha amiga Eglê, tu não podes afirmar que sou ateu. Apenas, sem presunção e sem beatitude, eu creio num ser Superior que o homem chama de Alá, Jeová ou Deus, e, na linha São Tomé, sou um cristão. Sou apaixonado por Jesus Cristo e sua palavra, porque ao contrário de Moisés e Maomé, ele só pregou o amor e a paz, foi o único homem na História que se entregou na morte de cruz para justificar sua doutrina.
Ainda rapaz, li “Quo vadis”, livro escrito pelo polonês Henrik Sienkiewcz, que me impressionou o massacre sofrido pelos cristãos primitivos na época de Nero e a força da resistência e da fé daquele povo. Embora, saibamos que o livro é literatura, o livro deve ter sido escrito pelo polonês após uma exaustiva pesquisa histórica do Império dos Césares face à convicção da leitura.
No epílogo, inesperadamente, aparece Jesus Cristo, e, São Pedro pergunta-lhe: “Quo vadis, Domini? (Aonde vais, Senhor?), Jesus Cristo responde-lhe: “Já que abandonas o meu povo, vou à Roma para ser crucificado outra vez”. São Pedro volta ao seu pastoreio e diz a lenda que morreu crucificado depois de cumprir o seu ministério, em morte de cruz de cabeça para baixo para não ser igual ao seu Mestre.
Na tua amável carta, tu dizes: “... pois se questionas a Ressurreição de Jesus em corpo e alma significa que questionas também a encarnação do Cristo no seio de uma Virgem por obra e graça do Espírito Santo”. Cara amiga, eu não sei de onde surgiu esta ideia, se eu negasse esta possibilidade, atestaria o meu desconhecimento do fenômeno partenogênese, que é a reprodução sem fecundação, isto é, o ser tem mãe, mas não tem pai, é o caso do zangão.
Quando estudei o “científico”, no Colégio Estadual de Itabuna - CEI, em mil novecentos antigamente, o meu professor indicou um livro de Biologia, não me lembro do autor, que trazia a história de partenogênese duma jovem inglesa que pariu sem conjunção carnal. Então, negar a encarnação de Jesus Cristo por uma virgem, seria desconhecer esse fenômeno.
Além do poder da Providência, Nossa Senhora se proclama: “Porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações.” (Lucas 1,48). Se tu lerdes a carta de Públios Lentúlios ao imperador César, tu irás encontrar, naquela época, referências sobre a santidade da jovem Maria, filha de Joaquim e Ana da linhagem de Davi. Portanto, amiga Eglê, a encarnação de Jesus Cristo por uma jovem judia virgem, é um fato e não um conto romântico.
Também, não tenho subsídios nem autoridade para negar a transfiguração de Jesus Cristo no monte Tabor, que embora seja um fenômeno raro, hoje, a ciência registra essa transformação da matéria. Os espíritas falam de períspirito que é mais ou menos algo que envolve o espírito, ou seja, estado de transfiguração.
Como vedes prezada amiga Eglê, eu não fui leviano na elaboração do ensaio: “O homem nasce para ser feliz?...”, acho que não faltou pesquisa e erudição. Eu pesquisei alguns aspectos existenciais do homem, porém, faltou em mim uma inteligência mais aguçada para desenvolver e clarear o que eu escrevi. Não culpo os leitores por não compreendê-lo, culpo a mim por tê-lo divulgado antes de esgotar todos esses questionamentos.
Enfim, te agradeço mais uma vez a possibilidade que estou tendo de explicar aos meus amigos leitores o meu pensamento.
Cordialmente,
Rilvan Batista de Santana
Itabuna, 26 de maio de 2011
Querida amiga Eglê,
Recebi, hoje, sua amável carta e quero, a priori, lhe agradecer por ter tido a gentileza de responder a minha carta publicada, ontem, no “Saber - Literário”, embora tenha “pegado pesado” comigo quando diz: “Acho meu caro amigo que terás de escolher entre ser cristão e ser livre pensador, pois se questionas a Ressurreição...”
Não tenho autoridade teológica para negar a Ressurreição, porém, coloco sob suspeição alguns aspectos da narração bíblica e atribuo às sucessivas traduções da Bíblia até os nossos dias e por ser um assunto que suscita interpretação diversa, prometo-lhe no decorrer desta missiva voltar ao assunto.
Desculpe a minha prolixidade, quando escrevo, um rio caudaloso brota dentro de mim, que a custo, procuro manter o rumo do barco das ideias, como se fosse uma casa fácil de construir, o acabamento é que demanda tempo. Não demoro na construção do texto, mas na hora dos retoques... tiro uma vírgula daqui acrescento outra acolá, mexo nos pontos de exclamação e interrogação, substituo palavras, vejo e revejo as concordâncias, aí o bicho pega!...
Peço-lhe que não transformemos as nossas controvérsias em réplicas e tréplicas à moda de Rui Barbosa e Ernesto Carneiro Ribeiro, eu não tenho estofo intelectual para sustentar por muito tempo uma discussão exegética e teológica, os meus parcos conhecimentos denunciariam a minha ignorância, principalmente, no enfrentamento de uma intelectual e religiosa do seu porte.
Sua carta lembrou-me um frei amigo que após ler “O homem nasce para ser feliz?...”, perguntou-me reiteradamente o que entendia por Eucaristia, Moral e outras coisas... Não lhe respondi. Ele tem jeito de mestre-escola e usa muito a maiêutica socrática, não sei se deliberadamente ou como mecanismo de defesa para não cair em contradição.
Não sei se é do conhecimento da egrégia poetisa que Sócrates envenenava o espírito das pessoas com perguntas capciosas de tal forma que deixava o seu interlocutor aparvalhado. Não sei se é no livro de Mênon ou de Górgias, que Sócrates pede ao sofista que definisse a virtude e o pobre diabo que já tinha feito mais de mil discursos no Areópago sobre a virtude, rende-se à ignorância de não saber o que é virtude.
Noutro trecho de sua carta, pergunta-me: “Amigo, já ouviste... falar do milagre Lanciano...”, confesso-lhe que “en passant”, porém, um mês atrás, a Dra. Sione Porto, gentilmente, enviou-me um slide Lanciano, aí, pude me aprofundar na história. Aprofundei-me também, faz algum tempo, no Santo Sudário e nas chagas do Padre Pio, que são mistérios de fé, acho essas discussões estéreis...
No ensaio que elaborei: “O homem nasce para ser feliz?...”, recorro ao valor da simbologia para materializar a fé e o valor da oração como único meio de conversar com Deus... A História das Religiões prova o que afirmei nesse ensaio: Jesus Cristo, recolhia-se para orar, assim como Maomé, Moisés, Buda, Lao Tsé, Confúcio, mais recente, Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Madre Tereza de Calcutá e a nossa Venerável Irmã Dulce. Porém, a Eucaristia é o símbolo maior da religião católica, a presença de Jesus Cristo no pão e no vinho durante a Consagração: "E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da Nova Aliança [ou Novo Pacto] no meu sangue derramado em favor de vós." (Lucas 22:19-20, e também Mateus 26;26-29, Marcos 14:22-25, I Coríntios 11:23-26), agora, a fé dá o desfecho da transubstanciação que é tranformação da matéria no Corpo e no Sangue de Jesus Cristo e acho que estamos afinados neste mister por dogma.
Todavia, ao que parece, não estamos afinados em relação à Ressureição, por um lado Eglê, tu sustentas uma fé sem discussão quando dizes: “Rilvan, amigo, TUDO ISTO É MISTÉRIO DE FÉ”.
Não sou um “pensador” como não sou um escritor, sou um livre ser pensante e um escrevinhador, Deus deu a mim e aos demais seres humanos essas potencialidades, necessário se faz, transformar em atos essas potencialidades, por isto, levantei no ensaio “O homem nasce para ser feliz!...”, o dogma da Ressurreição, não Ressurreição em si, mas a transformação de espírito em matéria corruptível, em corpo físico: “Tocai-Me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos”. Porém, Santo Inácio acrescenta: “Eles tocaram n’Ele e acreditaram. Esta comunhão estreita com a Sua carne e o Seu espírito ajudou-os a enfrentar a morte e a ser mais fortes do que ela. Após a ressurreição, Jesus comeu e bebeu com eles, como um ser de carne, quando Se tinha tornado um só espírito com o Pai. Recordo-vos estas verdades, bem-amados, sabendo que esta é também a vossa profissão de fé.” (Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir Carta à Igreja de Esmirna- Evangelho Cotidiano). Ora, minha amiga, mesmo um ato da Providência, é discutível, é um assunto que dá pano pra manga...
Por que sou cristão? A resposta é a mesma dada por São Pedro: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens palavras de vida eterna”. Além disto, minha amiga Eglê, tu não podes afirmar que sou ateu. Apenas, sem presunção e sem beatitude, eu creio num ser Superior que o homem chama de Alá, Jeová ou Deus, e, na linha São Tomé, sou um cristão. Sou apaixonado por Jesus Cristo e sua palavra, porque ao contrário de Moisés e Maomé, ele só pregou o amor e a paz, foi o único homem na História que se entregou na morte de cruz para justificar sua doutrina.
Ainda rapaz, li “Quo vadis”, livro escrito pelo polonês Henrik Sienkiewcz, que me impressionou o massacre sofrido pelos cristãos primitivos na época de Nero e a força da resistência e da fé daquele povo. Embora, saibamos que o livro é literatura, o livro deve ter sido escrito pelo polonês após uma exaustiva pesquisa histórica do Império dos Césares face à convicção da leitura.
No epílogo, inesperadamente, aparece Jesus Cristo, e, São Pedro pergunta-lhe: “Quo vadis, Domini? (Aonde vais, Senhor?), Jesus Cristo responde-lhe: “Já que abandonas o meu povo, vou à Roma para ser crucificado outra vez”. São Pedro volta ao seu pastoreio e diz a lenda que morreu crucificado depois de cumprir o seu ministério, em morte de cruz de cabeça para baixo para não ser igual ao seu Mestre.
Na tua amável carta, tu dizes: “... pois se questionas a Ressurreição de Jesus em corpo e alma significa que questionas também a encarnação do Cristo no seio de uma Virgem por obra e graça do Espírito Santo”. Cara amiga, eu não sei de onde surgiu esta ideia, se eu negasse esta possibilidade, atestaria o meu desconhecimento do fenômeno partenogênese, que é a reprodução sem fecundação, isto é, o ser tem mãe, mas não tem pai, é o caso do zangão.
Quando estudei o “científico”, no Colégio Estadual de Itabuna - CEI, em mil novecentos antigamente, o meu professor indicou um livro de Biologia, não me lembro do autor, que trazia a história de partenogênese duma jovem inglesa que pariu sem conjunção carnal. Então, negar a encarnação de Jesus Cristo por uma virgem, seria desconhecer esse fenômeno.
Além do poder da Providência, Nossa Senhora se proclama: “Porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações.” (Lucas 1,48). Se tu lerdes a carta de Públios Lentúlios ao imperador César, tu irás encontrar, naquela época, referências sobre a santidade da jovem Maria, filha de Joaquim e Ana da linhagem de Davi. Portanto, amiga Eglê, a encarnação de Jesus Cristo por uma jovem judia virgem, é um fato e não um conto romântico.
Também, não tenho subsídios nem autoridade para negar a transfiguração de Jesus Cristo no monte Tabor, que embora seja um fenômeno raro, hoje, a ciência registra essa transformação da matéria. Os espíritas falam de períspirito que é mais ou menos algo que envolve o espírito, ou seja, estado de transfiguração.
Como vedes prezada amiga Eglê, eu não fui leviano na elaboração do ensaio: “O homem nasce para ser feliz?...”, acho que não faltou pesquisa e erudição. Eu pesquisei alguns aspectos existenciais do homem, porém, faltou em mim uma inteligência mais aguçada para desenvolver e clarear o que eu escrevi. Não culpo os leitores por não compreendê-lo, culpo a mim por tê-lo divulgado antes de esgotar todos esses questionamentos.
Enfim, te agradeço mais uma vez a possibilidade que estou tendo de explicar aos meus amigos leitores o meu pensamento.
Cordialmente,
Rilvan Batista de Santana