Duas mulheres e O Homem
Duas mulheres e O Homem.
Eis um cenário ideal:
Uma Mulher. Autoconfiante. Sentindo-se amada, segura do amor do Seu Homem. Segura, desatenta a sinais de que Ele, O Homem, atrai, instiga tantas outras mulheres. A Outra, uma das tantas ao tempo em que única por ter se permitido entregar-se ao Homem... Sem juízo..sem censura..sem pudores..
A Outra. Tomada de desejo por Aquele que a fascina. Aquele. O da Mulher. A Outra. Atenta, disponível, sedenta dEle. A Outra ama. Ama!! Ama de tal forma que nega pra si a necessidade de ter O seu Homem na inteireza do tempo e do espaço. E dá-se. Dá a Esse Homem a condição de viver plenamente sua virilidade de Macho. De tal modo enroscam-se em fantasias que a ela basta-lhe a urgência carnal.
O Homem. Maiúsculo. Único. Feliz. Duas mulheres. Duas partes que o complementam. Feliz. É um Homem feliz. O lar. O projeto de vida. A sodomia. O gozo impublicável. O universo a conspirar. Duas mulheres. Suas. Felizes. Completas. A certeza do amor das duas. Aquelas. As que lhe dão, intensa e amorosamente.. Ele. O Homem. Nenhum conflito. O privilégio de ser Todo com cada uma.
Em outro tempo, um cenário sofrido, confuso...
Uma Mulher. Ferida. Atônita. Magoada, mas uma Mulher que ama. Ama, mas teme. A saudade. A falta. O indigesto da descoberta. A crueza dos fatos. No entanto, o amor...
O Homem. A confusão. Os referenciais. A perda. A dor. A culpa. Os por quês. O tormento. O espelho é o confronto com seus sentimentos. O Homem. O Marido. O Amante. O Falo. ( para um autêntico Homem, o Falo é um segundo Homem, dentro do Homem. O Falo tem vida própria).
O Homem à espera do perdão, à espera da calmaria para retomar o projeto de vida bruscamente interrompido. O Homem. Dois pássaros. Um à mão e outro ainda a voar. O vôo ainda sem a direção do vir. O outro, o segundo pássaro, ali, à mão. O revoar do primeiro pássaro pode sinalizar o abrir da mão que detém o segundo. O Homem. O Segundo. O Falo. Ainda preso no poder da dominação sexual de outrem. O irrestrito..o impublicável.. a perversão.. a sodomia..é, ao mesmo tempo, poder e prisão do Homem ao segundo pássaro. O Homem, o Primeiro, em luta com o Segundo Homem, no mesmo Homem.
A Outra. O pássaro à mão. A redução imaginária à condição de coisa. A necessidade de ser cuidada, de estar como ser infantil diante do adulto, manifesta na perversão masoquista da dor moral ou física. A outra. Não consegue mais existir voltada para o futuro. Reclusa, sente-se desaparecida para este mundo. Sucumbe.