A ultima carta - Silêncio.

Eu sei, talvez você não entenda os motivos pelo qual prometi tantas vezes que a carta numero 15 fosse a ultima. Tanto quanto a 74... Assim como não deve entender porque elas nunca chegaram a você, ou porque essa não tem uma numeração específica. Também sei que talvez você nem queira saber o motivo. De qualquer modo, lhe explico: Esta será realmente a ultima, e talvez a mais difícil... Ah, você sabe o quão fácil era dirigir palavras a ti, não sabe? Bem, a algum tempo venho lidando com a falta de facilidade com que as palavras fluem sob minhas mãos, também sob e sobre minha vida. A verdade é que você me roubou todas as palavras. E aquele silêncio que você nunca entendeu, era sobre isso. Era sobre o como você me tirava além do fôlego, além do sono e especialmente dos sorrisos. Me tirava, e ainda tira, palavras. Garanto-lhe que não existirá textos tão grandes como os significados de meus silêncios ao longo do caminho. Irônico, não? Um amor que começou ao som de tuas palavras e músicas se resumir no genuíno silêncio... Queria te contar, amor, de como as coisas andaram mudando nos últimos tempos. Você que conheceu minhas palavras antes de mesmo de reconhecer minha alma se espantaria com o tanto de coisas desconectadas que andam formando esse espaço de tempo que chamo de vida. É muita gente indo embora, é muito eu ficando sempre no mesmo lugar. Ah, falando assim até me esqueço que um dos que foram embora mais depressa foi você. Tínhamos tanta vida pra discutir, sabia? Mas não importa mais. Só queria te dizer pra cuidar da sua... Sei que as coisas não estão fáceis. Te juro que eu trocaria tanta, mas tanta coisa só pra ouvir tua voz. Se bem que espero que esteja descansando, eles disseram que você deveria até tudo isso passar. E eu também sei que você está recebendo toda a atenção do mundo, mas na maior parte dos dias permaneço acordada nas madrugadas como de costume. As vezes no meio da noite acordo e pego meu celular, como se ainda te esperasse chamar. Mas não acontece nada. Apenas silêncio. E eu não sei se é efeito colateral desse silêncio, mas as noites andam muito geladas. E no meio da noite, da vontade de te ligar e dizer que to chegando. Mesmo que não reconheças mais minha voz. Mesmo que eles digam que não há permissão pra te ver a uma hora dessas. Eu juro que sairia correndo no meio da noite e te levaria um cobertor, ou um livro. É que as vezes me dá vontade de saber como você está porque eu me sinto culpada. Se você soubesse quantas vezes fantasiei que talvez se acontecesse algo contigo você pudesse ver que eu estava lá ao seu lado, quando eles te virassem as costas. Era alucinação, loucura minha, amor. Mesmo depois de tantos anos treinando aquele sorriso e o discurso sobre nem mesmo pensar em você, receber noticias sobre você fez uma grande confusão na minha vida, de novo, e eu simplesmente não suportei. E é claro que eles estão ai agora. E eu nem sei mais se a culpa era de ter imaginado essa situação e ver ela acontecer agora, ou era culpa de não ser quem você enxergaria ao abrir os olhos numa manhã gelada. Por isso, te peço de novo: Se cuida. Mas se cuida mesmo, como eu faria se pudesse. Porque eu não posso. E te digo mais: Se cuida bem, mas bem mesmo, se mantendo fora do meu alcance. Sei que nunca fomos bons em cumprir promessas, mas promete pra si mesmo que vai se cuidar. Porque eu cuidaria de qualquer coisa pra te manter bem. Outro dia mesmo me peguei imaginando uma cena onde eu estava com a arma. Você de um lado, prestes a soltar um daqueles seu sorriso. E eu estava disposta a atirar. Eu atiraria em qualquer um que tentasse te impedir de sorrir novamente. Qualquer um. Por tanto, se certifique de ficar seguro. E longe de mim. Porque nunca se sabe se aquela arma não acabaria apontada à mim. Pela ultima vez: Se cuida. E me desculpa por tudo. Principalmente por guardar mais uma carta na gaveta... Ou por escreve-las... E resta mais uma vez, silêncio.

Pamella R
Enviado por Pamella R em 15/07/2012
Código do texto: T3778464
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