Ele caminha...
Talvez lembrando o passado,
quem sabe contando os cacos
que deixou pelos caminhos.
Num ímpeto, prendo a respiração,
lembro o primeiro único olhar,
em contraste com o último arfar.

Ele caminha...
Leva consigo o homem que
morava dentro daquele vulto
e que somente para mim
foi um mero desconhecido.
Ancorando em minha vida,
um marinheiro de partida.

Ele caminha...
Enfim, solto a respiração.
Não há chances dele voltar.
Sempre viveu longe de mim,
sem pressa de regressar.
Logo à frente, na esquina,
ele nem sabe pra onde virar.
Há tantos amores a ceifar...

Ele caminha...
Decidido, em direção ao futuro,
nem sei se ele é o mesmo,
de mil e uma noites mal dormidas.
Vejo apenas uma silhueta rindo,
prestes a virar a próxima esquina,
espectro de um homem andante,
colocando de volta, em seu bolso,
minha rústica carta de alforria.
Caminha...
Railda
Enviado por Railda em 13/07/2012
Reeditado em 22/06/2016
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