AOS OUTROS DE TI - Trecho final de uma carta - Na manhã de 12 de julho de 2012

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Os outros de ti me odeiam, jamais me perdoarão, jamais. Não há o que eu possa contra este ódio, o ódio destes outros de ti por mim, ódio que não enxerga verdade alguma em qualquer dos meus atos, ódio que só pretende ver embuste em cada uma das minhas intenções, ódio com o poder de manchar de cinza qualquer dia de Sol, e de negro os dias de chuva, ódio a que preciso sobreviver em cada dia dos meus dias. A mim no entanto, urge continuar a viver, essencialmente por amor a minha mãe e a alguns amigos queridos, a viver com este amor e esta fidelidade inúteis, a ti e a aos outros de ti. Até que o tempo nos cubra a todos com o seu esquecimento. Em verdade, há algum de ti que me tenha amado algum dia, que guarde de mim, ao menos, alguma recordação boa? Não o sei, jamais o poderei saber. Mais uma vez e humildemente, e inutilmente, peço-vos perdão por dizer-vos coisas assim, também sem nenhuma possibilidade de alcançar perdão, tanto quanto todas as demais coisas de minha lavra, no que se refere a vós. Mais uma vez, mais uma vez, eis-me a vos pedir perdão pela inutilidade, mais uma vez, do meu sempre e apenas mais um pedido de perdão. Eu sei, do mais fundo da tristeza das coisas tristes que nunca, jamais, havereis de, realmente, me reconhecer, ou melhor, me conhecer. Do mais fundo da tristeza das coisas mais tristes eu o sei. Eu o sei.

Na manhã de 12 de julho de 2012.