Para você minha querida.

Minha querida, minha amada. Te deixei para trás, me desculpe, foi preciso. Aqui nesse lugar me disseram, há muito, que eu não poderia ficar com você para sempre. Querida tanto tempo faz, mas eu nunca esqueci de ti, dos bons momentos que passei. Outro dia mesmo estava lembrando dos pique niques com a "galerinha do barulho" na casa da vó do rio. Lembrei de tudo, da grama verdinha, da nossa toalha amarelada, que era a única que mamãe deixava usar, onde colocávamos nossas guloseimas, o bolo de fubá, a broa de amendoim, as balinhas de caramelo, suco de laranja; lembrei que as vaquinhas ficavam perto sem medo da gente e a gente sem medo delas; lembrei que depois do pique nique costumávamos brincar no regatinho que tinha por perto. Lembrei das caminhadas de pés descalços nas estradas de terra, e que caminhadas, heim? A gente falava que estava explorando o mundo, né? Descobrindo-o.

Nossa querida fiquei com água na boca quando lembrei das manhãs em que tomava leite quentinho, espumoso, vindo direto da vaca e comia um pedação de bolo da vó Rita. Caí na risada ao lembrar de todas as vezes que pulávamos a porteira do sítio da Jesuelda pra comer amora no pé, chupar jabuticaba, e ela soltava aquele cachorrão branco pra correr atrás da gente, e a gente saia correndo, e pulava no rio pra fugir pelo outro lado e ela gritava " cambada de crianças encapetadas, um dia ainda pego vocês". Lembrei das nossas "pescarias" no rio que passava pelo sítio do Tio Eduardo, a gente ficava horas lá parados as vezes em silêncio, as vezes conversando com as nossas varinhas na mão e nada de pegar nenhum peixe (rs). Ah! E quando a gente ia nadar no Encontro Do Rio que gostoso que era passar a tarde inteira nadando, matando o nosso calor naquelas águas geladas. Lembro também que eu ia quase todo dia na casa da tia Sebastiana tomar o café docinho dela, era tão doce que o lábio parecia que até colava (rs).

Ah! tantas coisas, tantas lembranças. Como aquela vez num dia muito frio de inverno que eu tinha acabado de acordar e ouvi as vozes dos meninos lá do campo, aí eu abri a janela, subi nela e vi que o campo estava inundado, tava um lamaçal só e eles estavam brincando lá; eu pulei a janela do meu quarto, pulei o murinho da varanda e fui correndo pra lá, de pijama amarelo de bolinhas brancas que era ainda novo, rolei na lama, na água gelada, brinquei de pega com os meninos, nós todos sujos de lama estávamos tão alegres; de repente eu ouvi o grito da minha mãe " menina você ta ficando louca, vai ficar doente, vai pra casa já, anda" e eu olhei na mão dela e tinha uma varinha ai ai ai eu saí correndo pelo outro lado do campo, passei por ela o mais rápido que pude, cheguei em casa me tranquei no banheiro e fiquei lá um bom tempo, mas não adiantou acabei levando as palmadas do mesmo jeito (rs). Saudade dos passeios de carroça, das festinhas da igreja em que eu era coroinha. Das festinhas juninas que todo mundo dançava quadrilha, adulto, criança e tinha uma fogueira enorme que a gente ficava jogando gravetos nela pra ver as faíscas subirem. Ah! Sem falar nos "churrasquinhos" da galerinha, pão no espeto de pau torrado na fogueirinha que fazíamos debaixo do limoeiro, ficava uma delícia, lembra como nós gostávamos?

Saudades dos banhos de cachoeira, de andar de bicicleta naquelas estradas de terra daquele pequeno vilarejo, o nosso querido Moçambo. As vezes, ainda sinto aquele cheiro gostoso de quando o seu Zé torrava o café. Saudade de jogar bola no campo, de soltar pipa com a galerinha, de andar no meio do mato só pra ver se achava alguma coisa diferente, algum bicho diferente. Saudade do pomar da casa da Dona Neusa, parecia o paraíso das frutas gostosas. Ah! Sem esquecer do guaraná de maçã na garrafa de vidro que a gente tanto gostava.

Bom, minha querida, são tantas as boas lembranças que tenho, que aqui não cabem . Quero te dizer que não vou te esquecer, que você é uma chama branda dentro de min, que sempre vai estar acesa e sempre será lembrada com muito carinho, não importando o tempo que passar. Dizer que com você fui extremamente feliz. Te amo minha querida infância.

Laila Casperini
Enviado por Laila Casperini em 09/07/2012
Reeditado em 07/05/2013
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