"Salão Branco" - Escrevo aos meus 'eus' perdidos.
Queria piscar, queria ver o tempo passando veloz...
a vida tem sido difícil, as coisas não são sempre fáceis e eu tô aprendo de uma forma triste e dolorosa.
Não é culpa, nem arrependimento; é uma falta enorme que o meu coração ta sentindo que eu não sei explicar.
Me pego as vezes fitando as mãos e simplesmente não estou pensando em nada, os pensamentos estão calados, estão inertes.
Sinto-me sentando no centro de um salão branco; estou completamente cego, não há visão para canto algum, tudo é branco... Meu cérebro começa a falhar e então desliga.
Quando acordo estou novamente fitando minhas mãos e pedindo pra que o tempo simplesmente se desprenda das mãos de Cronos e voe libertino por ai.
Voar... é o que tá me faltando.
Tenho sentido borboletas, mas no cérebro e estou com meus pensamentos ilógicos.
Um beijo, um carinho, um amor... eu tenho. Mas eu tô trancado na sala e não tô vendo saída.
Uma piscada rápida; bem, nada aconteceu.
A chuva começou cedo, presenciei toda a sua queda e me peguei pensando se é assim que os anjos caem, como a chuva... simplesmente caem. E pensei ainda se é assim que os humanos caem também; caem em desgraça, em transtornos. Caem nos medos e na maldita Filofobi.
Acho que tô doente, ou resfriado. Fiquei quase uma hora na cadeira de balanço, lá fora no quintal; Peguei um pouco de chuva, mas... valeu a sensação de leveza.
Não sei se chorei, acho que (sim)não.
Acho que tô doente, porque tô com um medo sobrenatural.
Medo de sair de casa, de cruzar a porta, de olhar o mundo... Tô lutando contra isso tudo com uma força pequena demais, tô tentando combater fogo com palavras e o fogo tá lambendo tudo.
Ando cansado de escrever 'seilá' essa palavrinha medonha, antes eu entrava e saia do meu "Salão Branco", mas com as coisas de agora eu fugi pra lá, joguei as chaves pela janela e quis que tudo se perdesse, quis que tudo lá fora se apagasse, se findasse de uma forma menos dolorosa.
Agora eu tô aqui preso, perdido e cego... Tá tudo sem cor, tá tudo assustador; na minha cabeça tem um eco, e um som brutal que me assusta tanto... É o som da solidão que esmurra a portinha do quarto onde entrei, agora estou num quartinho apertado, onde cabe eu e talvez alguma parte perdida de mim mesmo.
Porque eu tenho andando assim ultimamente, quando estou a passejar pelos cantos do "Salão Branco" sempre encontro um pedaço de mim que clama ajuda, que chora de dor... Ontem mesmo ao passar próximo a escada uma mão me segurou e implorou: 'leve-nos daqui'.
Não é tão fácil, é como uma 'roda de hamster' e eu tô cansado pra cacete de ficar correndo em círculos.
Agora está um silêncio sepulcral, acho que a solidão cansou e se foi, mas não posso sair... Tenho medo de sair e ser engolido por essa fome voraz que as solidões tem, medo de ser jogado em um estado de penumbra, de cair em depressão profunda... A solidão sorri, ela está lá fora, eu sei que está.
Não permito sair daqui, não permito pensar em ir...
Não vou me entregar a triste certeza de ser infeliz por escolha própria, e se é assim que os humanos caem, vou segurar no ultimo fio de cabelo de fé que tenho...
Agora já está ficando escuro lá fora, a solidão está partindo, mas sei que ela volta. Ela sempre volta.