Uma carta de dor.

Escrevo-te debaixo de um céu anoitecido, mas claro pela luz da lua. Remeto-te minhas palavras para que saiba como tenho passado as horas... Ontem o dia correu devagar, se arrastou, me afundou, e eu não sei nadar. Imaginei sentir sua falta enquanto o relógio caminhava devagar na minha mente, rindo da minha espera abominável de te encontrar, reencontrar, e crer em você. Perdi algo dentro de mim, alguma peça-chave, alguma motivação. Quando me procurei, não me achei, declarei-me perdido de mim e, consequentemente, de você. Criei-me para brilhar nos espetáculos mais improváveis da nossa vida, e então houve um momento em que eu sentei na plateia e te vi encenar sozinho no nosso palco. Você não se deu falta, eu estive sempre sentado na primeira fileira assistindo nossa própria solidão. Sua solidão de estar sem a minha alma, que agora se perdeu outra vez no mar que sou, e minha solidão de estar sem a sua dedicação, que você usou com amigos e outras coisas que talvez mereçam mais importância do que eu. É fato que eu assumi, em um daqueles milhares de discursos internos que sempre faço, que apenas amar nunca é suficiente. Eu te escrevi várias vezes, onde estão suas respostas? Eu te pergunto como estão as coisas na tua cidade, e você me responde que sim, você gosta muito de mim. Há uma desconexão, uma falha, uma dor. Eu me doo inteiro, de músculos e ossos, estou todo dolorido. Amar é dolorido. Eu não vejo soluções, embora as queira e as busque o tempo inteiro. Talvez a iniciativa deva ser sua também. O que você quer? O que estamos fazendo? Eu sinto falta de simplesmente te abraçar e ter certeza que não cuspiremos fogo um contra o outro nos próximos dez minutos. Amar-te virou uma caminhada sobre carvões em brasa, me machuca, eu passo correndo, não me aprofundo, só sinto o que me dói. E é sempre muito. Muito também é o que te peço, quando sou tão pouco para ti. Puxe-me pela mão com força, me traga ao nosso palco de volta, mire holofotes em mim, faça-me brilhar. Eu sinto extrema saudade de quem você era. Eu sinto extremo medo de sermos isso que somos hoje para o resto de nós. Eu sinto demais. E é sempre muito. Se não fizer a chuva parar, que seja meu abrigo, que me aqueça. Quando eu vejo seus olhos, eu sei que nos pertencemos. Dê-me essa certeza em sua ausência, me faça amar o ar apenas porque é o mesmo que você respira. Eu quero idolatrar você. É meu jeito de dar todo meu amor, que, é sempre muito. Saia da tua cidade e vem morar em mim. Aparece aqui, bata na porta, pule a janela, juro que te aceito.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 03/07/2012
Reeditado em 03/07/2012
Código do texto: T3757644
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