PASSANDO A LIMPO.

Olá

Resolvi tomar meus próprios conselhos e , sendo assim, farei algo inusitado e sofrido, muito sofrido, mas talvez você tenha usado verdades quadradas mais do que eu. Tais verdades, das quais tenho fugido e negado, não estão tão quadradas. Preciso pô-las no ponto certo. Dessa forma, custar-me-á sobremaneiramente fazer isto que farei, mas, como eu já disse, resolvi seguir meus próprios conselhos, afinal, proteção demais não é bom, somente na guerra que se faz tão necessário.

Mulheres e homens são diferentes, fato já sabido. Diz-se de que homens são racionais e mulheres são só emoção. Negando esse fato ou ideia, busquei por esses dias ser racional... Usei da negação, da aproximação comedida, das palavras que foram emudecidas, das respostas não ditas. Usei de toda e qualquer negação, esquivei-me o tempo todo e a todo tempo. Afinal, tratar racionalmente os sentimentos que nos deixam cativos é muito mais confortável. E eu, assim como todo ser humano, gosto de me sentir muito bem. Frente a tal situação vivida, caminhei nesse intento e eu, consegui, consegui cumprir o que determinei a mim. Fui racional.

Eu sei que eu mereceria o reconhecimento, eu sei que fui muito boa em calar-me. Eu sei. Afinal, o personagem foi feito com esmero. No entanto, sou mulher! E essa é uma condição irremediável (rsrsr), sendo assim, agi de contragosto. A proteção em excesso não é boa. Na vida, limita o aprendizado e a experiência. Lamento pelo ocorrido, estive lá, mas persisti em usar as armas e, em mais um desses momentos de dúvidas e querer, quis eu resolver nossa pendência... Eu deveria ter ido mais longe.... Muito mais. Fitá-lo me fez refletir sobre a certeza do presente que lá estava, fatalmente, imexível (rsrs), sobre tal presente eu tinha poder... Mas, resolvi sugar o mel, apenas. Gostaria, como gostaria de ter explorado seu corpo... Gostaria, como gostaria de ter ido mais longe... Mas, naquele momento, nas circunstâncias que me assustavam, que me amedrontavam não podia tirar toda, de uma só vez a minha pele e mostrar minha carne crua.

Errei tanto. Errei em apenas querer trazer você. Eu, em uma tentativa de querer que tudo se resumisse fiz o que tinha que fazer. Ora, isso faz parte da racionalidade masculina e da minha imbecil tentativa de proteção.

Mas, na condição de ser mulher, investiguei você... Fitei-o na tentativa de saber quem me garantiria se haveria outra vez... Na tentativa de saber se tal momento se repetiria, apeguei-me ao presente. Era o que eu tinha. Era o meu presente e, sobre ele, eu tinha certeza.

Caminhei em uma direção que não havia volta. Como gostaria que eu tivesse ido mais longe... Como gostaria que eu tivesse tido a coragem de me libertar dessa falsa racionalidade que não me pertence, mas, que como uma armadura medieval, coloquei-a. A verdade é que, não pude ser completa. Mesmo com o corpo entregue, no leito, não fui tão longe e sei, sei que você merecia uma mulher de verdade. O único momento em que foi possível tirar a pele foi quando, ajoelhada, diante da partida iminente, percebi que era necessário correr para você, agachar-me e buscar sua boca... Ali... Eu precisava, em poucos minutos, me dar prazer, sem ficar preocupada com o que você pensaria, para melhor dizer, sem ficar preocupada que você me descobriria. Agora, sinto-me melhor para dizer essas coisas, afinal, não estou perto de você.

O que eu queria mesmo dizer, com todas essas palavras prolixas é que a presença de sua ausência me causou saudades. Que tal experiência, mesmo sem atingir o ápice desejado, trouxe-me algumas reflexões, uma delas é perceber que acasos existem que inevitavelmente existem pessoas que passam por nós, apesar de em circunstâncias impróprias, tornam-se boas lembranças e, nos ensinam.

Sempre julguei o tempo presente muito forte, planto nele os meus desejos. Mas, com o que aconteceu, percebi coisas mais concretas e, entre elas, é que você esteve lá e eu, por temer ser descoberta, não estive, você me assustou demais, não posso permitir você tão grande o quanto já é.

Quanto a tudo, digo obrigada e, quanto ao resto, saudades.

( Por Isadora Mattos)

Eliane Vale
Enviado por Eliane Vale em 01/07/2012
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