A viagem
Amiga Nina
Todos os dias parecem um só. A noite adormece e raios tímidos de sol rasgam os véus da noite anunciando outro dia. Sempre do mesmo jeito. Mas mesmo nas semelhanças há as diferenças. Ontem fui a um passeio. Talvez também igual a todos os outros, mas foi diferente.
Da janela do carro em movimento, pude sentir o vento falando mais alto que meus pensamentos. Ele vinha me dizer de meus medos, que eles não iriam me tomar. Parei para pensar nas notas melodiosas que compunham a música do vento e comecei a sonhar. Parei o sonho ao ver o lampejo da poesia à minha frente. Numa curva da estrada vi nitidamente uma árvore acariciar os viajantes. Seus galhos pareciam braços carinhosos. Foi uma emoção!
Mais tarde, já no mar, o senti tão grande em mim que deu-me vontade de chorar.
Sabe, amiga, minha relação com o mar é maior que o tempo. Não sei velejar, nem nunca pude navegar, mas sinto-me parte dele e ele de mim. A areia branca da praia conduzia meu olhar para um infinito capaz de eu sair de meu corpo e me ver naquele lugar. Sei que parece loucura, mas foi mesmo assim.
Todos riam, comiam, bebiam, brincavam, mas eu era duas em uma só. Estava lá e mais acolá. Ali e fora dai sem medo de ficar. Pude viajar dentro de mim e me perceber melhor. Pena que angustiei-me por mm mesma. Eu queria ser como aquela árvore. Amar incondicionalmente, viver incondicionalmente, acreditar no dia e na noite, mover minha história e não perder a história no tempo.
Acredito que cada um de nós á fez uma viagem dessas um dia. O que me diz, amiga.
Beth Ferreira