A noite mais escura é aquela que você mais vê estrelas

Eu estou vencendo e não sei o quê. O outro lado negro da rua, talvez. De mim. Você me fez parar de entender as coisas. E logo eu que via nexo em tudo! Estou vencendo os dias de calor, a saída de emergência, as desculpas pra não ficar mais. Aos poucos saindo da toca do coelho pra comer o Sol. Engoli sem garfo e faca as flores que você me deu há tempos. Você que acreditava que flores eram só flores e eu aqui gastando minhas horas pra dizer que é algo maior. Que tudo tem um jeito estranho de ser algo maior. Eu venço não sei o quê, mas sei que venço. E sinto a força migrando pros meus braços, como se por trezentas vidas eu vivi em algum lugar longe daqui e sempre estive aqui. Como se colocar o cotovelo na mesa fosse a coisa mais bonita e sorrir por educação fosse repulsivo. Eu sei que abrir o guarda-chuva é fuga e que ser zero é só mais uma chance de ser um só, mas é que correr em círculos nunca foi o meu forte. Eu beijo na chuva, sim. Desde que parei de entender as coisas, tudo fez mais sentido. É que eu virei a cara pro destino e ele me pegou pela mão. Venço o vendaval que dá nessas noites e fica cantando na minha janela, eu venço. E mais do que isso, eu me torno o vendaval pra poder me vencer. E consigo. Mesmo que eu não entenda nada e que o verde não seja mais tão verde assim. E digo que o clarão que você percebe por perceber é o paraíso dizendo que as nuvens só tapam o céu quando você quer que assim o seja. A noite mais escura é aquela que você mais vê estrelas.

Eu estou vencendo e não sei o quê.

Beatriz Adrivin
Enviado por Beatriz Adrivin em 25/06/2012
Código do texto: T3744735
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